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As melhores entrevistas do basquete feminino no Brasil

terça-feira, dezembro 07, 2004

Fernando Santos

O jornalista Fernando Santos é o responsável pelas colunas semanais do Canal de Basquete do STARMEDIA Esportes e bate um bolão exclusivo aqui no PAINEL:

1) Para iniciar a conversa: Como o basquete surgiu na sua vida? Você cobre basquete por paixão ou por obrigação?

Comecei a gostar do basquete na época em que Oscar, Marcel e Cia. estavam estourando na seleção brasileira, lá pelo início dos anos 80. No mesmo período, surgiam Paula e Hortência. O que me chamou muito à atenção foi a emoção dos jogos, principalmente aqueles decididos nos últimos segundos. Mais tarde, quando a NBA passou a ser transmitida pela TV para o Brasil, ah, foi o máximo! E, hoje, eu escrevo sobre basquete muito mais por prazer do que por dever de ofício.

2) O basquete vive em crise no país. Quem é o maior responsável nessa história: confederação, clubes, patrocinadores ou mídia?

Acho que o problema maior está em descobrir uma afinidade entre clubes etorcida. O público em geral se afastou do basquete depois que as empresas assumiram as equipes. Não dá para torcer assim. Outro motivo, talvez ainda mais importante, seja a falta de um grande ídolo (está na hora de Oscar descobrir um verdadeiro sucessor) e resultados expressivos da seleção noexterior (não me venha falar do último Pan-Americano!).

3) Os ganhos ou os danos foram maiores desde que o Grego assumiu a Presidência da CBB?

Acho que a gestão do novo presidente deu um grande salto com o campeonato colegial. Foi uma cesta de três pontos. Mas acredito que a grande virada não aconteceu por culpa dele, mas pelo crescimento do basquete carioca, apoiado pelo alto investimento de Vasco e Flamengo.

4) Por que é tão difícil a manutenção de trabalhos consistentes como o do BCN, em Osasco, e do Arcor, em Santo André?

Porque as empresas estão errando na estratégia. A sacada não é colocar o nome do patrocinador à frente do clube, uma fórmula que está falindo o vôlei. Nos EUA, a maioria dos times da NBA pertence a grandes grupos empresariais. Mas eles não são bobos, e sabem que trocar o nome da equipe é uma fórmula suicida. A saída, acredito, é montar equipes fortes, com grandes ídolos, conseguir atrair o público pela paixão do esporte e faturar pelas beiradas. Vejo o exemplo do Campeonato Carioca: foi emocionate, sem nenhuma empresa querendo aparecer mais do que os clubes. Esse é o caminho. Afinal,as TVs (principalmente) e os jornais não dão a devida atenção ao basquete e ao vôlei porque sabem que, nesse caso, estariam fazendo propaganda gratuita das empresas.

5) Qual a qualidade do trabalho de base no feminino? Está havendo renovação?

Os resultados obtidos pela seleção brasileira mostram que, ao contrário do time masculino, a renovação existe. O time que deve ir à Olimpíada é jovem e tem talento. O grande problema do basquete feminino brasileiro é a falta de pivôs, do contrário, poderia dominar o cenário internacional.

6) Em um dos seus artigos, você elegeu o Marcelinho,armador do Botafogo, como uma grande promessa para os próximos anos. Quem, no feminino, mereceria tal destaque?

Acho que a estrela do futuro, e do momento, é a Janeth. Ela é fantástica,completa. Sabe jogar de ala, pivô e, se precisar, arma o jogo. Quando escolhi o Marcelinho como o grande destaque da temporada passada, fiz pela sua excelente participação na seleção e pela capacidade de decidir os jogos.Como acontece com a Janeth.

7) Magic Paula é presente ou passado para a seleção feminina?

Acho que ela deveria ir a Sydney. É uma jogadora experiente e poderia ajudar muito a seleção, mesmo como opção no banco de reservas. Seria um desperdício deixá-la de fora.

8) Qual a sua expectativa sobre a participação do basquete nas Olimpíadas de Sydney?


O ouro é impossível. Não dá para bater as americanas. Como já disse, falta uma pivô dominadora no Brasil. Não é à toa que a CBB lutou tanto para colocar a Karina na seleção. Mas dá para voltar com outra medalha.

9) A temporada da WNBA bastante próxima das Olimpíadasserá um tormento apenas para as brasileiras, que perderão Janeth e Claudinha na preparação ou também para as americanas, que terão o tempo de treinamento reduzido?

Essa é uma questão delicada. Se a jogadora fica muito tempo concentrada, num longo projeto de preparação, ela diz que é sacrificante, que são muitostreinos e preferia estar jogando. É o caso da WNBA. Talvez seja melhor manter um forte ritmo de competição do que ficar apenas treinando. O ideal seria conseguir um equilíbrio: nada de treinamentos excessivos, nem de campeonatos desgastantes. Já que isso não é possível, o melhor é tentar preservar a forma física da melhor maneira possível, o que vai pesar muito em Sydney.


Data da entrevista: 28/03/2000.