bate-bola

As melhores entrevistas do basquete feminino no Brasil

quinta-feira, junho 14, 2007

Fábio Sormani

1) Como surgiu o seu interesse pelo basquete?
R - Sempre gostei de basquete, ou melhor, de esporte. Quando estudava, joguei em times de escola, especialmente em Bauru, cidade onde cresci, que fica no interior do Estado de São Paulo. Mas não foi nada a sério, até porque sempre fui um perna-de-pau, infelizmente. Quando comecei a trabalhar como jornalista, busquei a área esportiva, porque, como disse acima, sempre gostei de esporte. Infelizmente, aqui no Brasil, o sinônimo de esporte é futebol. Eu adoro futebol também, tanto assim que comento futebol pela Rádio Bandeirantes de São Paulo. Escrever sobre basquete sempre foi um dos meus sonhos. Comentar também. Felizmente, com o advento da TV a cabo, outros esportes, como o basquete, tênis, vôlei, natação, futsal, handebol, entre outros, passaram a ter destaque na mídia e eu consegui realizar meu sonho de trabalhar com o basquete.



2) Em quais órgãos de imprensa você já cobriu basquete?
R - Antes de chegar ao SporTV, trabalhei na ESPN Brasil. Lá, além de comentar os jogos do Campeonato Carioca, criei um programa -- que existe até hoje --, chamado "Por Dentro do Basquete". A gente destacava tudo: Brasil, EUA, Europa e também o basquete das categorias de base. Um pouco diferente do que vai ao ar atualmente, e que eu também considero muito bom. Antes da TV, no entanto, escrevi sobre a NBA no jornal "Folha de S.Paulo". Lá, por idéia de um ex-editor de esportes da "Folha", Sérgio Sá Leitão, um grande amigo e um grande jornalista, foi criada a coluna de basquete -- que existe até hoje. O nome, porém, era "Basquete no Mundo". Era muito gostoso. Escrevi por cerca de cinco anos. Foi o meu trabalho na "Folha" que abriu as portas para a TV a cabo. Atualmente, além de trabalhar com o basquete no SporTV, tenho uma coluna semanal sobre basquete no site iG. O endereço é o seguinte: www.ig.com.br.


3) Não há planos para ressucitar o BASKETMANIA no SPORTV?
R - Infelizmente, a curto prazo, não há qualquer projeto neste sentido. O "Basketmania" poderia ser ressucitado se houvesse uma pressão por parte dos assinantes pedindo a volta do programa. Adoraria que isso acontecesse, mas, infelizmente, não depende de mim. Os custos do programa eram altos demais.


4) Durante algum jogo, você já elogiou uma jogadora e de repente ela fez tudo errado ou criticou-a e ela arrebentou? Conte pra gente!
R- Com certeza isso deve ter acontecido, pois a gente erra também. Sinceramente, não me lembro de nenhum caso. Mas, repito, isso deve ter acontecido.


Você tem mais experiência que a galera aqui do Painel. Talvez possa ajudar-nos a ver melhor as seguintes questões:

5) Por que a pivô Karina ainda não pode jogar pela seleção? É uma decisão imparcial da FIBA ou sinaç da fraqueza política da CBB?
R - Diria que as duas coisas. A Karina, infelizmente, ainda como juvenil, atuou pela seleção principal da Argentina. De acordo com as regras da Fiba, ela não pode mais defender outro país. No entanto, o pivô Hakeem Olajuwon, do Houston Rockets, quando ainda juvenil, jogou pela seleção da Nigéria, onde ele nasceu. Olajuwon naturalizou-se norte-americano em 1992. A Fiba exige, também, que o processo de naturalização tenha pelo menos quatro anos para que um jogador possa defender seu novo país. A CBB falou sobre o caso Olajuwon para a Fiba, mas ela respondeu que Hakeem jogou pela seleção juvenil e não a principal e por isso ele foi aceito no "Dream Team" que disputou os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. Para mim, todavia, seleção é seleção, não importa qual categoria. Infelizmente, o poderio norte-americano é bem maior do que o brasileiro. Hakeem pôde jogar pelos EUA e Karina não pôde defender o Brasil.


6) Por que é tão difícil conseguir patrocínio no basquete?
R - Não é apenas no basquete que é difícil conseguir patrocínio. Veja os casos de Santos, São Paulo e Atlético Mineiro, entre outros times grandes do futebol brasileiro, que estão tentando fechar acordos com empresas, mas não conseguem. E isso tudo com a grande visibilidade do futebol na mídia. Imagine esportes como basquete e vôlei. Penso, no entanto, que há uma certa má vontade por parte das empresas brasileiras e multinacionais e apostar em produtos como o basquete. Além disso, a CBB poderia ser mais agressiva no marketing -- e ela não está sendo.


7) Como você encarou o último Campeonato Nacional Feminino?
R - Foi uma pena o que aconteceu nas semifinais, com a eliminação do BCN. Isso não poderia ter acontecido. Na minha opinião, creio que o BCN aproveitou-se do caso para retirar o patrocínio do basquete. Acho que eles estavam querendo pular fora. Não havia motivos para eles saírem do basquete, em que pese a punição sofrida, pois o regulamento previa que se um time recorresse seria eliminado. Então, o pessoal do BCN sabia que isso não era permitido -- e recorreu. A CBB deu uma demonstração de seriedade ao punir o BCN. Penso que isso manchou bastante as finais do feminino. Depois, na decisão, venceu, de fato, o melhor: o Paraná Basquete. Como contestar um 3x0!


8) O que poderia ser feito para melhorar o Campeonato Nacional?
R - Penso que o ranqueamento no feminino tem de ser mantido. É benéfico, pois evita que um time apenas concentre as melhores jogadoras do país. Imagine você se o Vasco puder contratar todo mundo! O Campeonato Nacional do ano que vem não terá a menor graça. Então, o ranqueamento é saudável e tem de ser mantido. Como disse acima, a CBB deveria melhorar o marketing dela. Acho que a confederação deveria estreitar o relacionamento com a WNBA e ver como eles fazem as promoções para melhorar o nível de público nos ginásios. Com arenas lotadas, a mídia se interessa em noticiar. Com a mídia noticiando, as empresas aparecem. E tudo melhora. Mas, na minha opinião, o que deveria ser feito -- tanto no feminino quanto no masculino -- era um Campeonato Nacional mais longo. O Campeonato Nacional não pode ter o mesmo tempo de duração dos regionais. Desta maneira, fica difícil você desenvolver o basquete nos outros centros.


9) Quais as suas expectativas para as temporadas paulista e carioca de basquete feminino?
R - Infelizmente, não tenho qualquer expectativa, pois, ao contrário dos EUA, onde daqui um mês a gente vai ficar sabendo da tabela da NBA para a próxima temporada, aqui no Brasil a gente não sabe quem é que vai disputar este ou aquele campeonato. Como, então, ter qualquer expectativa? Mas não é preciso citar só a NBA, veja o caso do automobilismo, onde a FIA já anunciou o calendário da próxima temporada da F-1 e o GP do Brasil será no dia 1o. de Abril.


10) Como você qualifica a renovação no feminino? O trabalho de base não está órfão?
R - A renovação é boa, pois temos boas jogadoras aparecendo. Fiquei muito feliz ao saber que a técnica Maria Helena Cardoso está de volta ao basquete feminino. O time de Osasco foi montado e revelado por ela. Maria Helena não pode ficar, jamais, de fora do basquete feminino. Para mim ela é a melhor treinadora que temos. Quanto ao trabalho de base, acredito que ele está sendo bem feito, mas, infelizmente, basicamente concentrado em São Paulo e com alguma coisa sendo feita no Rio. Gosto da política atual da CBB, que tem procurado dividir um pouco as convocações das seleções de base para a disputa dos sul-americanos, pois isso ajuda a incentivar outros centros a formar jogadoras. Acho também correta a política da CBB em fazer jogos da seleção em vários Estados do Brasil. O nosso maior problema é a falta de dinheiro para termos campeonatos e mais campeonatos. Não é barato fazer um torneio em nível nacional envolvendo os principais Estados brasileiros.


11) Em que jovem jogadora você aposta suas fichas?
R - Gosto demais da Cristina, que atuava pelo Osasco, e que agora está no Santo André. Ela é uma espécie de "faz-tudo" ("swing-player", como dizem os americanos) em quadra. Pode atuar em várias posições -- e sempre com muita competência. Infelizmente, ela ficou parada quase um ano em função de uma contusão no joelho. Voltou este ano e em grande forma. Não fosse a contusão, penso que o técnico Antonio Carlos Barbosa teria convocado a Cristina para a seleção, mesmo que nesta fase preliminar.


12) Qual a sua opinião sobre a participação das brasileiras na WNBA? Atrapalha a seleção? Elas são valorizadas como deveriam na terra do Tio Sam?
R - Acho extremamente positiva a participação das jogadoras brasileiras na WNBA. Lá, elas amadurecerão demais. Veja o caso da Janeth, que está no Houston Comets, e que sempre foi uma grande jogadora. Tímida, não conseguia deslanchar. Na WNBA ela conseguiu maior confiança e hoje lidera o time brasileiro sem qualquer problema. O mesmo vai valer para a Claudinha, que está no Detroit Shock. Ela está em quadra uma média de 23 minutos por jogo. Isso é muito bom. A Cintia Tuiu também. No Orlando Miracles ela é uma das principais jogadoras. Fica em quadra quase que o jogo todo. Só a Alessandra é que ainda não conseguiu se firmar no Indiana Fevers. Penso que se ela não conseguir a confiança do treinador, deveria voltar para o Brasil e passar a treinar com a seleção brasileira para os Jogos de Sydney. Mas estar na WNBA é positivo porque o campeonato norte-americano é o mais forte do mundo. Lá, as nossas brasileiras estarão lado-a-lado com as principais jogadoras do planeta. Não se intimidarão quando tiver de enfrentá-las. E, melhor ainda, para jogar lá, é preciso ter um nível elevado de jogo. Por isso, elas não poderão descansar nem um minuto sequer.


13) E nas Olimpíadas, qual o seu palpite?
R - Acho que EUA e Austrália farão a final do feminino. Se o Brasil conseguir subir ao pódio será excelente. Não estamos, atualmente, no mesmo nível desses dois países. Os EUA são incomparáveis e a Austrália, além de jogar em casa, com o apoio dos torcedores, tem um time fortíssimo que atua quase todo ela na WNBA também. É só visitar o site da WNBA e ver o time do Phoenix Mercury. Nosso maior adversário para a conquista do bronze é Cuba. Mas acho que dá para vencer. Mas não podemos desprezar a China e nem a Polônia, atual campeã européia.


14) Quem formaria seu time titular hoje, no Brasil?
R - Eu colocaria em quadra basicamente o mesmo time que o Barbosa tem escalado: Helen, Claudinha, Janeth, Marta e Alessandra. Mas não ficaria com este quinteto o tempo todo em quadra. Jogadoras como Silvinha, Adriana Moisés, Cintia Tuiu e Kelly podem jogar. Isso sem falar na Leila, que atualmente se recupera de contusão. Em forma, ela é jogadora para figurar em qualquer seleção do planeta. Mas meu quinteto, hoje, seria o mencionado acima.


Um grande abraço e obrigado pelo papo.
Abraço bem grande ao pessoal do Painel do Basquete, e obrigado por acompanhar o meu trabalho no SporTV. Não se esqueçam de visitar o site do iG e ver minha coluna.
Tchau!