bate-bola

As melhores entrevistas do basquete feminino no Brasil

quarta-feira, outubro 17, 2007

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quinta-feira, junho 14, 2007

Érica Vicente

A armadora Érica Vicente é cria do interior paulista. Como atleta adulta, defendeu as equipes do Jomec/Rio Preto (1996), BCN (1997), Ulbra (1998) e Santa Bárbara D'Oeste (1998). Neste ano, a atleta resolveu alçar vôos mais longos e cheia de coragem, rumou para os EUA. Hoje, pertence à elite da NCAA (a mais importante liga universitária do país) e fala, com exclusividade ao PBF.

1) O assunto do momento é a sua participação do Final Four da NCAA, mas vamos voltar ao tempo. Onde você nasceu? Quando e onde você começou a praticar basquete? Quem foram os técnicos que te iniciaram no esporte?
Nasci em Jundiaí, interior de São Paulo no dia 22 de abril de 1976. Comecei a jogar em 1986 nas escolinhas do Colégio Divino Salvador. Minha minha primeira técnica foi Jeannine Ferrari Chagas, mas também trabalhei com o técnico Borracha por um ano quando ainda estava na categoria mini.
2) Nas categorias juvenis, por quais clubes você passou?
Joguei por Jundiaí, mas eu ainda era infanto e foi em Santo André (Lacta), e em seguida na Unimep de Piracicaba que foram meus últimos anos como juvenil.
3) Você foi convocada para a disputa do Mundial Juvenil de 1993, não foi? Chegou a participar do torneio?
Sim, mas fui cortada indo apenas para o Sul-Americano no Paraguai. Foi uma experiência muito importante. Mesmo sendo infanto, fui convocada. E também por ter treinado com jogadoras que hoje são grandes nomes do basquete nacional.
4) A conquista do Campeonato Paulista de 1997 pelo BCN/Osasco foi a sua primeira participação em uma equipe adulta? Fale um pouco dessa conquista, do grupo formado pelo BCN e da convivência e dos ensinamentos da técnica Maria Helena Cardoso.
Na verdade já vinha participando de equipes adultas sendo juvenil mas acho que foi no BCN umas das melhores experiências como adulta, por termos conquistado o Campeonato Paulista. Tínhamos um time jovem e que poucas pessoas acreditavam, mas com o excelente trabalho da Técnica Maria Helena, nos tornamos um time unido e com força total.
5) Encerrado o Paulista daquele ano, você transferiu-se para o time da Ulbra, em Canoas (RS) para a disputa do I Nacional de Basquete Feminino. Como foi essa experiência? Como foi trabalhar com o técnico Paulo Bassul (hoje técnico da seleção juvenil)?
Foi uma experiência muito legal e gostei muito de ter trabalhado com o técnico Paulinho. Ele é muito inteligente e uma pessoa que sempre te da forca. E foi nessa equipe que surgiu a oportunidade de jogar nos Estados Unidos.
6) No início da temporada de 1998, você foi para o Canatiba/Santa Bárbara d'Oeste, que comandado pela técnica Nilcéia Ravanelli, conquistou o Campeonato Paulista da Divisão A-2. Após esta conquista, você rumou para o basquete universitário norte-americano. Quais foram os fatores que pesaram nesta decisão?

Antes de jogar em Santa Bárbara eu já havia decidido o que iria fazer, então estava procurando um time pra jogar apenas o primeiro semestre, já que partiria em agosto. Conversei com a técnica Nilcéia e deu tudo certo. Gostei muito de trabalhar com aquela equipe e fomos campeãs do Campeonato A2, sendo minha primeira experiência nessa divisão. Eu já estava decidida porque alem de jogar nos Estados Unidos também iria estudar e como basquete não é pra sempre e eu já estava com 22 anos, não pensei duas vezes!!!

7) Como você chegou ao basquete nos EUA? Quem te indicou? Para que universidade você foi? Em que curso você se encaixou?
Cheguei no basquete americano através do técnico Jose Medalha. Conheci Medalha quando estava na equipe Ulbra, ele estava como nosso diretor. Como Medalha já tinha contatos nos Estados Unidos, por ter vivido e também porque seu filho Eric Medalha já estava por lá, ele me indicou um técnico de Oklahoma. Fui para um Junior College( Bacone College) em Oklahoma que é uma universidade, só que menor, já que não falava nada do inglês. No Junior College você só pode ficar por dois anos e tive a sorte de ser recrutada depois dos meus dois anos pelas melhores universidades Division I dos Estados Unidos e que hoje estou em uma delas - a Southwest Missouri State University. Estou cursando International Business e como minor Sports Administration.
8) Como foram os momentos iniciais nos EUA?
Não foi tão difícil como eu pensava (apesar de saber apenas algumas palavras em inglês). também tive a sorte de vir com outra brasileira - a Erika Rante - e acho que isso ajudou bastante. E claro que ficar longe da família e dos amigos é sempre difícil, principalmente quando você vai para um lugar que você não imagina como vai ser ou até mesmo que tipo de pessoas você vai encontrar, mas Graças a Deus foi recebida muito bem e os americanos me ajudaram muito. Eu estava começando uma vida nova!
9) Quais as diferenças principais entre o treinamento nos EUA e no Brasil em relação à quantidade e à qualidade?
No Junior College treinávamos uma vez por dia já que estudávamos de manhã. Mas agora divisão I e totalmente diferente. Aqui eles separam em três partes: o pre-season, o in-season e o post-season. No pre-season fazemos testes, musculação e muita parte física. Costumamos a treinar 6:30 da manha musculação e a tarde corrida e pick up games. Ficamos geralmente dois meses nisso e a partir de outubro e que começa o "real practice" como eles chamam. Nesse período que já e o in-season só treinamos na quadra e às vezes musculação. O treinamento em quadra costuma a durar 3 ou 3 horas e meia...e bastante puxado! Aqui tudo é muito certinho por isso dá para programar os treinos desde o começo ate o fim e no Brasil como ha vários torneios (Jogos Regionais, Abertos, Paulista...) às vezes o calendário se torna bastante confuso. Eu acho que nos Estados Unidos as atletas são mais fortes em temos de parte física e, no Brasil, é mais o talento que conta, porque no treinamento de musculação aqui nos Estados Unidos a quantidade é bem maior. Acho que na qualidade não tem tanta diferença, só a defesa é que pesa um pouco, realmente por aqui e bem mais forte. E pra finalizar vem o post-season, não temos mais treino com bola, apenas alguns "rachões" (hehehe),musculação, corrida.
10) Como tem sido a sua trajetória por aí até chegar a disputa do Final Four neste ano? Fale um pouco sobre a sua participação nesta temporada, os momentos mais marcantes, etc.
Desde o primeiro dia que cheguei nessa universidade o objetivo era o Final Four, por isso treinamos muito para chegar ate lá. Por aqui os campeonatos são divididos por regiões, devido aos 300 times que participam da Divisão I, então ficamos campeãs da nossa região e fomos para o NCAA Tournament que são todos os campeões de cada região num total de 64 times. A nossa trajetória foi maluca. Em menos de duas semanas cruzamos o pais de um lado para o outro. Em New Jersey vencemos um dos times mais fortes e seguimos para Washington State onde vencemos os dono da casa e Duke. Não foi nada fácil, mas enfim deu tudo certo. O que mais me impressionou foi que a cada lugar que fossemos sempre havia um grupo de mais ou menos 200 pessoas que nos acompanhavam.
11) O seu time acabou sendo eliminado nas semifinais, não é? Como foram os últimos jogos?

Sim ,não conseguimos ir para a final, não jogamos muito bem devido ao nosso cansaço por falta de tempo pra descansar, mudança de horário, etc...Mas valeu!!! É muito difícil chegar entre o quatros melhores times do país e por isso eles dão muita importância para esse Final Four. A cidade inteira estava nos esperando mesmo com a derrota. Eu tive a sorte de vim pra cá, o basquete e o principal esporte dessa cidade (Springfield) e o pessoal e maluco pelo time. Acho que pra mim está sendo um dos melhores lugar pra se jogar, onde a cada jogo tínhamos mais de dez mil pessoas nos assistindo.

12) Uma outra Érika faz parte do seu time: a pivô Érika Rante. Como ela tem se saído por aí? Existem outras brasileiras jogando na NCAA? A Jacqueline Godoy participa de algum time do torneio?

A Erika Rante foi muito bem e é uma das melhores pivôs que temos por aqui. A gente se entende muito bem dentro de quadra o que facilita o nosso trabalho. Não conheço mais ninguém que esteja jogando NCAA de mulher, mas conheço muitas garotas que estão no junior college como eu comecei e que também estão sendo recrutadas por grandes universidades. A Jacque está na liga NAIA e que também e uma liga forte. Eu acho que a única diferença e que nessa liga não importa a idade que você tenha que você pode jogar. Já a NCAA vai até os 25-26 anos, se eu não me engano.
13) Qual a reação das suas colegas norte-americanas quando sabem da sua nacionalidade? Existe algum tipo de preconceito? Quais são os referenciais do basquete brasileiro para os norte-americanos?
O Brasileiro e querido em qualquer lugar do mundo, não sei eu acho que temos um jeito especial que cativa as pessoas, mas quando se trata de rivalidade elas não querem nem saber de onde você vem, é porrada mesmo!!! No começo elas podem até assustar mas depois você mostra seu trabalho e então elas abaixam a bola. Não tive nenhum tipo de preconceito até agora. O americano gosta muito do basquete brasileiro eles dizem que somos mágicos, devido as habilidades, os passes...O duro é que ainda tem alguns americanos que pensam que o Brasil só tem "soccer" como eles dizem!!!
14) Quais são seus planos para os próximos anos? Você pensa em retornar ao Brasil?

Tenho mais um ano de basquete e espero me formar o ano que vem. Gostaria muito de voltar para o Brasil, jogar numa equipe quem sabe...mas só volto se as oportunidades forem boas, ao contrário ficarei por aqui.

15) Continuando no basquete universitário norte-americano, você pode estar mais perto de uma vaga na WNBA? Você tem esse projeto?
Acho que as chances por aqui são mais fáceis porque a cada jogo sempre tem algum técnico te olhando. Eu gostaria muito, se eu tiver oportunidade estarei pronta.
16) Você pensa em brigar por uma convocação para a seleção brasileira?
É claro que toda atleta tem o sonho de participar da seleção de seu pais, eu nunca vou dizer que eu não quero brigar por isso, mas infelizmente as oportunidades parecem que diminuem a cada dia. Mas se precisarem de mim, estarei a disposição!!!
17) Você faz parte de uma geração que está ocupando progressivamente o espaço deixado por Paula e Hortência, com atletas como Silvinha, Alessandra e Leila. Como você analisa o momento do basquete brasileiro internacionalmente?
O time do Brasil esta passando por uma renovação, mas mesmo assim eu acredito que esta entre os melhores do mundo. As atletas brasileiras são guerreiras e mesmo passando por tanta dificuldade conseguem fazer bonito. E o basquete brasileiro é respeitado porque queira ou não já fomos campeãs do mundo e medalhas de prata e bronze nas Olimpíadas!!!
18) Participando do universo de formação de atletas nos EUA (as universidades), você pode responder: o trabalho de base no Brasil está muito atrasado em relação às grandes potências do esporte? Compare a sua formação no Brasil (incentivo, recompensas, infra-estrutura) com a que uma atleta norte-americana recebe na sua formação?
Eu acho que a formação do Brasil não é ruim. Uma coisa que o Brasil está na frente é que jogadoras jovens tem a chance de treinarem e jogarem com time adulto o que não acontece aqui. As meninas americanas quando chegam na idade dos 20, 21 são mais "verdes" que as nossas porque elas não tem essa oportunidade de amadurecerem mais cedo. Agora em termos de incentivo, estrutura...não tem nem o que falar. Aqui todas as escolas tem todos os tipos de esportes, só não joga quem realmente não quer. O incentivo é muito grande, aqui tudo tem um prêmio: por você marcar bem, pegar rebote, sofrer falta de ataque, assistência, melhor nota na escola ou por marcar mais pontos é claro. Então dá gosto de jogar, mesmo que você faca 1 ponto, mas mostre raça, ou pegue 20 rebotes eles te darão valor. A mídia também e muito importante, dá uma ajuda enorme. Os ginásios são coisas de outro mundo, tudo muito bem feito, com vestiários, salas de fisioterapia, musculação,piscina, tudo que uma atleta realmente precisa. Eu acho que o Basquete no Brasil é mais como um emprego, onde as jogadoras são os empregados que recebem salário.

19) O Bate-bola para encerrar:

O jogo que eu não esqueço: jogo do Final Four

O jogo que eu tento esquecer e não consigo: o jogo final do NJCAA(junior college) onde perdemos na prorrogação.
Um time: Perdigão Divino
Um campeonato: NCAA
Um(a) técnico(a): Aquele que te dá oportunidade
Uma colega: além de minha irmã, também a Erika Rante
Uma estrangeira: duas- a Edna Campbell e a Jackie Stiles
Uma quadra: SMS GYM, dez mil pessoas a cada jogo.
A bola que eu chutei e caiu: uma do meio da quadra
A bola que eu chutei e não caiu: um lance livre
Uma marcadora implacável: Nádia
Os brasileiros ficaram muito orgulhosos por essa sua temporada vitoriosa. Muito sucesso, sorte e saúde para você. Obrigado pela entrevista.
Eu é que agradeço pela oportunidade e sempre que precisar e só me dar um alô. Um grande beijo pra todos que curtem o Painel do Basquete!

Grego

O presidente da Confederação Brasileira de Basquetebol (CBB) comparece à Assistência e fala dos planos para o próximo Campeonato Nacional, do ranqueamento, do bronze olímpico, televisionamento, Karina e muito mais.



1. A maioria dos fãs do basquete o conhece como presidente da CBB. Mas, como se deu seu envolvimento com o esporte? O Sr. Já jogou?


Iniciei a pratica do basquete com 10 anos, na escola pública ainda em Atenas, na Grécia. Depois, no Brasil, onde cheguei com 12 anos, joguei basquete em Nova Friburgo, Sírio Libanes, América, Tijuca, Botafogo. Fui diretor e vice-presidente do Botafogo, e em 1982 entrei para a Federeção de Basquetebol do Estado do Rio de Janeiro, como vice-presidente técnico. Presidi a Feberj de 1985 a 1997, quando fui eleito para presidir a Confederação Brasileira de Basketball.

2. Como o Sr. avaliou o bronze da seleção brasileira de basquete feminino em Sydney?


Essa Medalha de Bronze Olímpica para o basquetebol brasileiro valeu Ouro, considerando o potencial das equipes que ficaram na nossa frente: os Estados Unidos, pelo trabalho desenvolvido, e Austrália, que por 10 anos se preparou para essa competição, com recursos enormes. Portanto, estamos muito orgulhosos com a terceira colocação.

3. Houve uma cobrança muito grande durante ao Jogos Olímpicos por uma participação mais regular da seleção brasileira. A que o Sr. atribui as instabilidade durante o torneio?


Em Sydney tivemos uma seleção mesclada de juventude e experiência, mas temos que considerar o nível técnico muito elevado dos outros países, além do peso e pressão psicológica de uma Olimpíada com tamanha repercussão.

4. Muitos defendem que o comando técnico da seleção poderia ser renovado. O Sr. pretende manter a atual comissão técnica, capitaneada por Antonio Carlos Barbosa?


Claro, o trabalho além dos resultados alcançados, é de agrado da comunidade do basquetebol.

5. Ainda há um anseio muito grande por renovação. Nesse sentido não seria interessante a criação de uma seleção B para que o universo de jogadoras com experiência internacional se ampliasse ?


Durante a temporada de 1999 e 2000 existiu essa seleção B que participou de diversas competições internacionais de alto nível técnico como o excursão à Austrália, os torneios nos Estados Unidos e Europa.

6. Quais são os planos da CBB para os próximos anos em relação às seleções femininas, tanto adulta como das categorias menores?


A seleção juvenil participará do Campeonato Mundial, em julho, na República Tcheca, e terá uma preparação internacional muito intensa. A seleção principal participará do Campeonato Sul-Americano em junho, no Peru, e da Copa América (Pré-Mundial/2002), em setembro, no Brasil.


7. O Sr. como Presidente da CBB, tem alguma opinião formada sobre a necessidade de um trabalho psicológico dentro de uma equipe ou acha que é uma decisão que só diz respeito à comissão técnica?


Numa Comissão Técnica completa e competente, entre todas as suas funções, trabalha também o lado psicológico. Somos à favor de que nada falte para a equipe, e a solicitação da inclusão de um psicólogo no grupo deve partir dos profissionais que integram a comissão técnica, sem imposição da CBB.

8. Quais eventos internacionais a CBB pensa em trazer para o território brasileiro? Podemos pensar em sediar um Mundial aqui?


Em 2001 vamos sediar a Copa América (Pré-Mundial). Mas, estamos distantes de sediar um Campeonato Mundial, única e exclusivamente por falta de instalações adequadas para um evento desse nível.

9. Quanto às categorias menores, como a CBB tem se organizado para possibilitar a revelação de nomes novos e privilegiar o trabalho de base ?


Desde junho de 1997, estamos realizando 20 campeonatos de base (cadete-15/16 anos, juvenil-17/18 anos, Sub-21-19/21 anos), feminino e masculino, anualmente. Acreditamos que desse trabalho surgirão e já estão surgindo novas estrelas do basquetebol.

10. Em relação aos clubes, já estão definidas as linhas gerais da quarta edição do Nacional Feminino? Quantas vagas para cada estado? Qual o número total de participantes? A duração do torneio será alongada?


Já está tudo pronto para a 4ª edição do Campeonato Nacional Feminino/2001. Teremos a participação de oito equipes distribuidas dessa forma: São Paulo terá quatro vagas, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Pernambuco terão um representante cada.

11. Já estão definidas as normas do ranqueamento para a temporada? Quais são as alterações em relação aos anos anteriores? Como conciliar o ranqueamento sem gerar desemprego?


O ranqueamento já foi definido e será publicado nos próximos dias. Temos certeza absoluta que ele só trará benefícios para o basquete feminino porque foi feito com essa finalidade.

12. A CBB se prestaria a agir como fizeram as federações paulista e carioca, favorecendo a contratação de atletas estrangeiras por times menores?


A CBB, pela sua própria diretriz, apoia e ajuda as federações estaduais e os clubes, da seguinte forma: envio de bolas, uniformes, transporte aéreo e terrestre, hospedam, alimentação, estatística, arbitragem, premiação, divulgação e marketing. Mas entendemos que foi uma ótima iniciativa das federações, tanto do Rio como de São Paulo, em proporcionar a vinda de atletas estrangeiras, fortalecendo e valorizando suas competições.

13. O televisionamento é parte fundamental da estratégia de massificação de um esporte. Há possibilidade que a quarta edição do CNBF seja transmitida por canais abertos, como foram a primeira e a terceira edições?


Continuamos com o nosso canal campeão, o SPORTV, que transmitirá um número recorde de jogos, tanto do feminino, como do masculino. E, estamos trabalhando com afinco para que uma ou duas Tvs abertas transmitam basquete.

14. A realização de eventos internacionais é sempre bem-vinda. Antes da sua gestão, essa era uma deficiência evidente do nosso basquete, e a realização de Mundiais Interclubes supriu essa carência. Nesse sentido, a CBB pretende se esforçar para que o país continue a sediar edições do Mundial Interclubes de Basquete Feminino?


Claro, não só os Interclubes, mas todos os tipos de competição que pudermos. Toda oportunidade que tivermos, não pensaremos duas vezes.



15. Estão esgotadas as probabilidades para que a jogadora Karina Rodrigues defende a seleção nacional?


Lamentavelmente as probabilidades foram totalmente esgotadas. Falamos pessoalmente com o Secretário Geral da Fiba, que mostrou-nos que não existe num caminho para a liberação da Karina, de acordo com o regulamento vigente da entidade.



16. Como o Sr. encara a ação que vem sendo movida pela atleta Leila Sobral contra a Comitê Olímpico Brasileiro (COB)?


Sempre fui contrario a esse tipo de atitude. Acredito que a conversa resolve todos os problemas, e espero que isso ainda aconteça entre a Leila e o COB.

Barbosa

Um papo franco com o atual técnico da seleção brasileira de basquete feminino sobre história, stress, Olimpíadas, Cíntia Luz e muito mais.

I. A maioria dos fãs do basquetebol conhece a sua trajetória mais de perto a partir do seu retorno às quadras como técnico da Unimep/Piracicaba em 1993, mas você tem uma trajetória bem mais longa no basquete brasileiro, não é? Gostaria que você contasse um pouco dessa história: já foi jogador? como se tornou técnico? como se envolveu com o feminino? os clubes, os títulos, etc?

Joguei basket até a categoria juvenil, em Bauru, fazendo parte de uma equipe que foi campeã estadual da categoria em l963, sendo esta, a primeira vez que uma equipe do interior ganhava um este titulo. Neste tempo, como eu já demonstrava um grande interesse pelo basket, e não reunia aptidões para a categoria adulta, eu passei a ser utilizado também como técnico da equipe infantil e juvenil masculino ,sendo que na minha primeira competição oficial com o masculino fomos vice-campeão do interior no juvenil masculino isto em l964. Porém um ano antes em l963, comecei a dirigir a equipe do colégio que eu estudava, o I.E.Ernesto Monte, já na categoria feminina, na época os campeonatos oficiais eram disputados por poucas equipes e no interior somente participavam Piracicaba e Sorocaba, que eram as grandes forças na época, ao lado de Corinthians, Palmeiras, Pinheiros, Ypiranga, na capital e Botafogo e Flamengo, no Rio de Janeiro,(estou ilustrando e não historiando, pois não tenho certeza destas equipe terem existido exatamente na mesma época) e então nosso objetivo era disputar Campeonatos Colegiais, cujas finais eram realizada no Pacaembu em S.Paulo e era o sonho de todos chegar até estas finais, e eram um verdadeiro celeiro de revelação de atletas ,pois o basket federado ainda era privilégios de pouquíssimos. Em l965 a F.P.B. resolveu massificar o basketball feminino com a realização de campeonatos regionalizados pela FPB, no ano seguinte surgiu em Bauru, a Associação Luso Brasileira ,que iria iniciar uma nova fase do basketball feminino na cidade, inclusive disputando campeonatos federados, eu fui então convidado a dirigir esta equipe que basicamente era a mesma do I.E.Ernesto Monte. A partir de l969,fui contratado pelo SESI, para trabalhar com escolinhas de basket feminino e masculino, mas obviamente como meu envolvimento era com o feminino, o trabalho acabou sendo mais intenso nesta categoria. Porém em l972, tive um desentendimento como o Luso, devido um choque de atividades Luso x SESI, então surgiu o Bauru Tênis Clube, que reuniu as jogadoras adultas do Luso e as reveladas nas escolinha do Sesi. Com este trabalho,a única jogadora importada era então com apenas l5 anos a jogadora Suzete, que jogou por certa 13 anos em Bauru, que se transformaria na grande revelação do basquete por muitos anos. Neste período tivemos uma presença marcante nas categorias menores, volto a repetir, com praticamente só formadas em Bauru, fomos campeões mirim em 1972,Infanto juvenil, l972, l973, l974, l975. Juvenil, l972, l974, l975, l977, neste período foram muitas a jogadoras ai iniciadas que chegaram a seleções brasileiras juvenil e adulta, casos de Vânia Teixeira, Teresa Camilo(foi campeã Pan-americana juvenil em l978,jogando de titular ao lado de Hortência , Paula e a Vânia Teixeira),e outras como Simone(não é a cantora,mas sim uma armadora) Jane, Evanilda e outras,que embora não tivesse sido iniciadas em Bauru, lá se formaram caso de Solange e Fátima Zaváris. Como técnico de seleção me iniciei em seleções paulista adulta em l968, como assistente técnico do técnico Newton Corrêa Costa Jr.(Campineiro) em l969, assistente técnico na seleção Paulista juvenil, do prof.Waldir Pagan Perez. Em seguida passei a dirigir como técnico titular as seguintes seleções paulista l970, l972, l973, l974, 1975, 1976,juvenil. Seleções adultas paulista ,l970,l979,l981,1985,sendo campeão em todos. Na seleção brasileira me iniciei como assistente-técnico do Waldir Pagan, no Pan-americano de Calli, Brasil campeão,(Marlene, Nilza, Odila, Jacy, Maria Helena, Heleninha, Norminha, Elzinha, Delcy, Nadir, Benedita e Lais ).Continuei nesta função até l973, onde devido a problemas de trabalho,me afastei.Em l975, o Brasil foi 12 colocado no Mundial que se realizou na Colômbia, contando com várias jogadoras daquela geração e algumas novas como a Suzete, Cristina Punko (médica e falecida há pouco tempo),Telma(atualmente técnica masculina em S.Bernardo),e ai a CBB,resolveu mudar a comissão técnica para um trabalho de longo prazo, ai então fui convidado em l976,para iniciar este processo.Tomamos algumas iniciativa pioneiras, ao invés de assistente técnico, chamamos um preparador físico,assim como um psicólogo.


Convocamos a Hortência,que na época era reserva em S.Caetano, com apenas l7 anos, a Paula com 14 anos,Vânia Teixeira l6 anos. Além daquelas mais jovens que já participaram do Mundial na Colômbia.Em l980, surgiu Marta, em l982 Branca e l983 vânia Hernandez. Permaneci até l984.Claro que foi um período de renovação e portanto era difícil a conquista de títulos, outro problema que enfrentávamos naquele momento é que tínhamos problemas sérios de estatura e não existia ainda a linha dos 3 pontos, o que nos beneficiou muito nas outras competições.Os títulos nesta fase: Campeão Pan-americano Juvenil ,em l978, Medalha de Bronze Pan-americano de Caracas l983,Campeão sul-americano Juvenil l976, Campeão Sul-americano adulto l978,l981,Campeonato Mundial l983-Quinto lugar.Participamos ainda de 2 pré olímpico,sendo desclassificados nos dois, um quarto lugar no Pan-americano de Porto Rico, nono lugar no mundial da Coréia, vice-campeão juvenil nos USA, terceiro lugar da Copa América no México em l977.

II. Em 1996, o Campeonato Paulista opunha na final a Microcamp, treinada por você, e a Seara Americana, de Vendraminni. Ganhar o play-off era decisivo pra você voltar a ser técnico da seleção ou o convite já estava formalizado?

O Campeonato Paulista de l996,foi decidido em janeiro de l997, eu já havia voltado para a Seleção Brasileira, para dirigir a Seleção Brasileira Juvenil, ainda na administração Brito Cunha. Embora no ano anterior (1995) eu havia formado um juvenil na Unimep, a justificativa do convite que me foi formulado pelo prof.Waldir Pagan e o vice-presidente prof. Fábio de Barros ,é que queriam a minha volta para a CBB, e como teríamos no Brasil em julho de l997, o Campeonato Mundial Juvenil, era idéia da CBB a convocação de um técnico experiente para comandar este trabalho. Minha participação foi iniciada no Sul-americano Juvenil, que foi realizado no Equador, e o Brasil vinha de um resultado negativo no ano anterior no campeonato realizado no Brasil, quando perdemos 2 jogos um para a Colômbia e outro para a Argentina e ficamos com o vice-campeonato. Perdemos novamente ,desta vez para a Argentina, porém no Pan Americano em Setembro do mesmo ano no México, nos reabilitamos e fomos campeões. Logo no retorno da Olimpíada de Atlanta , houve me parece, declarações da comissão técnica da época que não desejavam mais permanecer na Seleção, ai então fui também convidado para assumir a seleção principal, que iria disputar o Campeonato Sul-Americano, no Chile, isto em maio de l997. Portanto não acredito que tenha sido fator principal, mas é óbvio que dá mais sustentação, a um convite.

III. Você assumiu a seleção num momento de glórias. Havia um certo receio de não conseguir manter o nível do basquete brasileiro?
Entrei na seleção em dois momentos distintos, no primeiro um basket feminino no fundo do poço e no outro no seu auge. Claro que sabia das dificuldades da manutenção daqueles resultados, e foram de toda a forma neste período e considero que acabamos superando e se não conseguimos os mesmos títulos,(seria até muita pretensão) pelo menos conseguimos nos manter sempre entre os 4 primeiros, o que em nível mundial não é fácil. Principalmente perdendo não uma jogadora , mas um fenômeno, como Hortência e já com Paula também não demonstrando tanta disposição para Seleção. Receio tem de ter, porém precisa-se ter sempre confiança no trabalho, e principalmente com que você vai trabalhar.

IV. Desde que você assumiu, os obstáculos têm sido freqüentes. Você perdeu dois fenômenos: Paula e Hortência. A Leila atuou pouco. A Marta enfrentou problemas de saúde, e a WNBA concentra as atletas por um período maior. Como tem sido lidar com esses 'pepinos'?

Veja só, além da perda da Hortência, vou só ilustrar os desfalques enfrentados em nossas participações: Copa América em São Paulo (l997): Janeth-WNBA, Cíntia Santos-operada do joelho, e Branca –se contundiu logo no primeiro jogo. Mundial na Alemanha (1998): Marta- foi operada de um mioma. Neste período em diante já sem Paula (1999): Pré-Olímpico em Cuba, cíntia Santos-jogando na Itália, Leila,- problemas particulares, Marta- não fez bom brasileiro e optou-se por não chamar. Pan-americano do Canadá(1999): Janeth-WNBA, Cláudia- WNBA, Alessandra- WNBA, Silvinha- contundida, Marta pelo motivo acima. Olimpíada de Sidney (2000): Leila- contundida. Sem ainda contar as dificuldades de treinamento desta atletas que jogam no exterior, por estas é que consideramos nossas classificações muito boas, ou até ótimas.

V. Nos pivôs, nosso basquete cresceu muito tanto em altura, como em talento. Alessandra e Cíntia estão muito bem e são seguidas por uma geração que promete: Zaine, Kelly, Geisa, Kátia, Patrícia, entre outras. No entanto, na armação e na ala, os buracos deixados por Paula e Hortência ainda não foram preenchidos. Temos uma geração fantástica: Helen, Claudinha, Adriana, Silvinha, mas que ainda está se solidificando internacionalmente. Como resolver esse problema e garantir uma renovação mais segura?
O que ocorre,é que sempre se torna difícil se falar em substitutas destes dois fenômenos, assim as comparações são inevitáveis. Paula e Hortência iniciaram suas participações em seleções brasileira em l976. Seus primeiros sul-americano adulto foi em l977 (vice-campeão) primeiro mundial l979 (Coréia - 9o. lugar) primeiro Pré-Olímpico l979(Bulgária), primeiro pan-americano l979( Porto Rico), portanto é muito tempo de seleção brasileira ao lado de um talento incomparável. Por força deste alto nível destas atletas, tornava-se difícil um revezamento que permitisse o crescimento das reservas destas posições, é só analisar a participação de Adriana e Helen, na competições importantes, como pan-americano de Havana,Mundial da Austrália e Olimpíada de Atlanta,(Helen não jogou),Silvia jogou só a Olimpíada, e a Claudinha estreou no Mundial da Alemanha e logicamente jogou pouco. A participação destas atletas foram das mais pífias nestas competições, então nós temos de encará-las ainda em processo de amadurecimento em nível internacional, sem com isto desmerecer em momento algum o nível de basketball que apresentaram neste segundo período na seleção brasileira. Com os pivôs, já ocorreu o contrário, nem bem saíram do juvenil e Leila e Alessandra praticamente se tornaram titulares da seleção. Somente a cíntia que a partir do pan-americano do Canadá passou a efetivamente a jogar, e depois já surge esta geração onde o destaque é a Kelly que neste momento já é uma realidade. A Geisa vem se destacando neste campeonato paulista como uma eficiente reboteira ,sem se falar ainda na Érica, pivô juvenil do BCN, que com certeza já merece uma convocação para a seleção principal.

VI. A Copa América de 1997 nos encheu de esperança, no entanto, o ritmo não se manteve no Mundial da Alemanha, em 1998. A curta preparação foi o principal obstáculo?

A participação na Copa América foi sem dúvida das mais brilhantes, com Paula tendo sua melhor atuação neste período sob meu comando, com partidas perfeitas ao lado de Marta que também esteve ótima.Veja bem jogamos sem a Janeth, cíntia e a Branca se machucou logo no primeiro jogo o que custou uma cirurgia no joelho, além da Claudia Pastor que havia disputado a Olimpíada de Atlanta. Para a Alemanha tivemos o retorno da Janeth e da cíntia, porém perdemos a Marta, que se submeteu a uma cirurgia no útero. Perdemos duas partidas para a Austrália, ambas por pequena diferente de pontos 2 pontos no primeiro e 5 na decisão da medalha de bronze, e para a USA por 12 pontos, após ter terminado o primeiro tempo na frente do marcador. Antes do Mundial disputamos um torneio em Portugal, contra a Austrália, Coréia e Portugal e fomos campeões. Tivemos a preparação em parte prejudicada pelo calendário, tendo em vista que naquele ano foi pela primeira vez disputada o Campeonato Nacional, aliás desejo e necessidade de todos os atletas, senão correríamos o risco de perdermos os patrocínios após o termino do Paulista. Tivemos a apresentação da equipe no dia 26 de abril e o embarque foi em maio, com menos de um mês de treinos. Com isto a parte física acabou sendo a mais afetada. Infelizmente foi uma situação que nada tinha outra opção, havia a necessidade urgente do Campeonato brasileiro, por questão até de sobrevivência financeira, e com isto ficou reduzido a preparação.

VII. No Pan-Americano, de 1999, depois de uma campanha invicta (e surpreendente) na primeira fase, tropeçamos na fase final. A que você atribui aquela queda?

Não tenha dúvida que foi uma surpresa a nossa participação. Saímos do Brasil, com as chances e porque também não dizer objetivos de terminar em quarto lugar a fase de classificação e posteriormente lutar pela medalha de bronze, talvez com o Canadá, tendo em vista a equipe que nos foi possível levar a competição, desfalques de Janeth, Alessandra, Claudinha, Silvinha e Marta, porém jogamos muito bem, com algumas estreantes chegando a surpreender como Adriana Moisés, Lílian e Kelly, com participações realmente além da expectativa. Veja bem viramos o primeiro jogo contra Cuba,tirando uma diferença de 21 pontos, e assim passamos por todos. Somente contra a Argentina não jogamos bem, ganhando na prorrogação. Não podemos dizer também que fomos decepcionantes dai para frente,pois perdemos do Canadá (que contava inclusive com a sua jogadora da WNBA)de 2 pontos , sendo que faltando 6s para o final viramos e passamos 1 ponto na frente. Sem dúvida a última partida contra os USA, fomos muito mal,já sem a Leila que havia se contundido no jogo contra o Canadá e o aspecto físico já pesava e ainda temos de considerar o abalo emocional , pela circunstâncias da derrota contra o Canadá, que nos tirou pelo menos a medalha de prata.



VIII. Antes de passar ao bronze olímpico, gostaria de tocar num dos pontos delicados da preparação: o corte de Cíntia Luz. Como foi essa decisão e em que ela se baseou? Você daria novas chances a ela na seleção?

A Cíntia é uma excelente jogadora,que temos de convir se firmou de titular em sua equipe nas finais do Paulista e posteriormente no Brasileiro,o que lhe valeu a convocação. Temos de considerar que Olimpíada é final de um ciclo de preparação, e seria isto sim incoerente de minha parte a dispensa de uma atleta que já havia participado das seleções anteriores, que serviram também como preparação justamente buscando um amadurecimento internacional para as olimpíadas. Óbvio, que se o nível técnico estivesse muito acima daquelas com quem ela tinha disputado a posição isto seria relevado. Existe aspectos de características dentro de uma sistematização tática de jogo e aquelas que melhor se enquadrem. Lembrando que a primeira e única participação da Cíntia em uma seleção adulta foi no Sul-americano de Iquique no Chile em l997,sob minha direção. Continua perfeitamente sob observações para possíveis outras convocações.

IX. Na campanha de Sydney, observou-se uma mudança que ocorreu em todos os países, mas que no Brasil é evidente: a diminuição da ofensividade. Os jogos de placares baixos dominaram a competição. Como você explica essa tendência mundial?

Os placares baixos sempre foram as características do basketball europeu principalmente. Não tenha dúvida que sem Paula e Hortência o nosso poder ofensivo perdeu muito,é só observar estatisticamente, o trio Paula, Hortência e Janeth eram responsáveis por 75% dos pontos do Brasil, inclusive no meu retorno a seleção eu priorizei defesa e procurei adequar um jogo em que valorizássemos mais a posse de bola,porém sem nos afastar de nossas características justamente por termos consciência desta perda pelo menos por enquanto deste poder ofensivo.

X. O time surpreendeu a todos na vitória contra a Rússia. Foi um momento especial da equipe?

Sem dúvida a partida contra a Rússia foi a melhor e mais equilibrada tática e emocionalmente por nós jogada. Foi uma partida diferente das outras em que comandávamos o placar todo o jogo e perdíamos no final(França e Canadá). A Rússia era a meu ver uma equipe em condições de disputar medalha de ouro, vista a partida entre Usa e Rússia foi das mais equilibradas com a Rússia liderando o placar quase todo o jogo. A equipe russa era praticamente a mesma que foi vice-campeã mundial na Alemanha (perdeu a final para os USA no final, e com uma arbitragem bem discutível). Estivemos todo o tempo em desvantagem, no placar, além de ter sido a partida em que a Janeth menos tempo permaneceu em quadra.

XI. Um dos momentos mais curiosos e marcantes das Olimpíadas foi a sua invasão na quadra, a segundos do fim da partida contra as russas. O que passou na sua cabeça naquele instante?

Pedimos um tempo quando faltavam 16 segundos e organizamos uma jogada ou para o arremesso da Helen ou o passe dentro para a Alessandra. Claro que a opção primeira era a bola de segurança com a Alessandra, não havia necessidade de um arremesso de 3 pontos pois a diferença era de 1 ponto. Como a jogada era para ser finalizada no limite do tempo e ao ser concretizado o lance a campainha soou julguei, que havia se encerrado o jogo, foi quando a Helen avisou que não, e na realidade era um pedido de tempo, do técnico russo ai então eu rapidamente tirei a equipe dando a entender que eu havia invadindo para poder aproveitar o tempo com minhas atletas, mas na verdade foi um emoção, satisfação e desabafo.

XII. Quais são os fatores que fazem com que tenhamos tantas dificuldades nos jogos contra as australianas?

As dificuldades do Brasil com a Austrália já são históricas. é só observar a supremacia ao longo do tempo ,16 vitórias para Austrália contra 3 do Brasil (l967-Campeonato Mundial em Praga, l992,pré-olímpico de Vigo, e 1998 torneio amistoso em Portugal.) A Austrália nestes últimos anos, a partir da década de 90, passou a ter uma seleção permanente, cujo seu forte é o jogo de intensidade e o conjunto muito sólido, apoiado hoje em 3 jogadoras (Jackson,19 anos, um fenômeno; Brondelo e a Timms, que acabou jogando pouco na Olimpíada). Porém, embora tenhamos, perdido não podemos nos caracterizar como uma equipe inferior. São equipes equilibradas, desde que, estejamos completos e bem treinados. Na Olimpíada tivemos desvantagem do confronto ser em sua casa e ainda mais sendo o Basket feminino a única modalidade de quadra com possibilidades de final.

XII. Durante as Olimpíadas, alguns jornais, estamparam uma declaração sua, segundo a qual 'stress é coisa de babaca', em referência a sua opção (e de Bernardinho, do vôlei) em recusar o trabalho mental do coordenador do COB Roberto Shyniashiky. No entanto, algumas oscilações do time, como no Pan, nas derrotas contra França, Austrália e Canadá parecem ter mais de emocional do que de deficiência técnica-tática. Como você avalia essa questão e como pretende conduzi-la nas próximas competições?

A história do “stress é coisa de babaca”,foi a seguinte: em uma coletiva de imprensa ainda no início da Olimpíada,me questionaram se eu não tinha stress antes de jogos pois tem técnico que passa noite acordado antes de jogos e outras atividades, eu então disse que como comandante, líder eu não tinha o direito e não poderia ter esta fraqueza, pois o que eu poderia esperar de meu time, se eu já era o primeiro a estar abalado emocionalmente, e stress é era para quem acorda de madrugada viaja de trem de subúrbio, trabalha 8 horas por dia e ganha um salário mínimo, e assim por diante fui dando exemplos neste nível, e completei, como posso me estressar trabalhando no que eu me realizo, numa Olimpíada. Que é o sonho de todos de estar, ora stress nesta situação é coisa para fraco ou para babaca. É esta a verdadeira versão. Não acho que oscilamos no Pan, pois simplesmente surpreendemos numa fase, perdemos um jogo faltando 6 segundos, e aí sim no último jogo fomos realmente mal, mas já em outra pergunta já ilustrei tal jogo contra a USA. Os jogos na Olimpíada acho sim que o emocional tem uma presença forte. O Dr. Roberto fez algumas, ou melhor, duas sessões com a equipe ,ainda em Camberra. Resolvemos(todo o grupo) não continuar simplesmente porque julgamos que o tempo era muito limitado e reduzido, para este trabalho. Estes trabalhos com psicólogos ainda não se tornou algo muito utilizado no basketball, aliás este trabalho na minha visão precisa de um tempo maior do que aquele que dispomos normalmente em seleções, no próprio futebol ainda é muito discutível, a presença deste profissional. Não quero dizer que não aprovo,pelo contrário, só para ilustrar em l977, eu trouxe para a seleção brasileira em minha primeira passagem um psicólogo. Penso que para lidar e melhorar este emocional temos de dar uma atividade intensa em termos de competições internacionais e logicamente sempre conversando e motivando além de procurar tirar o máximo possível a responsabilidade por resultados. Fico satisfeito quando você observa que o problema foi mais emocional do que técnico- tático.

XIV. Todos os comentaristas reclamaram do comportamento ofensivo do Brasil dos Jogos. Chamou atenção a dificuldade em realizar o corta-luz. Por que isso aconteceu?
O Basket feminino brasileiro não utiliza em demasia corta-luz. Jogamos mais em desequilibro e passe para fora buscando o arremesso de 3 pontos. Tínhamos uma movimentação, especifica para a Janeth, em que ela recebia um corta-luz vertical na lateral do garrafão e vinha para um arremesso ,na altura do lance-livre, além da movimentação em que a lateral (a Helen foi explorada nesta jogada) arremessava do canto da quadra, recebendo um duplo corta-luz. Tínhamos movimentos táticos em que trabalhávamos buscando o jogo de força com a Alessandra próxima a cesta. Portanto contínuo avaliando que nossos comentaristas ou estão excessivamente exigentes ou estão com pouca acuidade visual.

XV. Mesmo assim, o bronze foi uma conquista muito especial. Como você a avalia em seu conjunto?

Avalio a competição como de altíssimo nível técnico. Existe hoje um equilíbrio no Basket feminino,com uma superioridade por parte da USA, e podemos dizer que estamos entre as melhores, pois nesta década ficou claro este alto nível técnico do Basket feminino brasileiro,sempre classificado entre os 4 melhores do mundo Além de termos conquistados mais uma medalha olímpica para o Brasil, com uma geração renovada, e que nos enche de esperança e confiança para as próximas competições internacionais.

XVI. Várias atletas tem surgido, e em especial a Cristina (Arcor) tem chamado muita atenção. O momento é bom para o Brasil? Como você avalia o trabalho nas categorias menores?

A Cristina é uma jogadora que conheço bem,pois participou das seleções juvenis,em 1996 e 1997 em algumas competições internacionais,como Sul-americano,Pan-americano e Mundial Juvenil. Talvez tivesse até tido chance de convocação na seleção principal,porém a mesma se encontrava com problemas físicos, operação no joelho, e infelizmente está novamente com o mesmo problema. Existem algumas jogadoras que estão se destacando mesmo na categoria juvenil, caso de Érica e Iziane do BCN, da Silvia de Americana, a Vivian do Arcor e a Patrícia de Ourinhos, entre outras que estão apresentando um basketball com destaque. Vejo como bom o trabalho nas categorias menores, porém nos defrontando sempre com o problema de número ainda reduzido de participantes em campeonatos oficiais, o que nos limita a quantidade para dela tirarmos a qualidade.

XVII. Quais são os planos para as próximas competições internacionais?

No ano que vem ou seja 2001, teremos três competições internacionais, uma para a categoria juvenil, e duas para a equipe adulta . Para estas duas competições, que inicialmente será o sul americano, deveremos levar uma equipe mesclada com algumas jogadoras novas para darmos condições internacionais a elas. Posteriormente teremos a disputa da Copa América que classifica três seleções para o Mundial, lembrando que o Brasil foi o último campeão ,sendo que nesta estaremos convocando as melhores jogadoras.

XVIII. Passando agora ao Quaker, o clube chegou a anunciar a contratação da russa Chakirova e depois trouxe a bósnia Merina Secebergovis, mas abdicou de ambas por uma atleta cubana, que acabou não vindo pela ruptura do acordo entre a FPB e o governo de Cuba. Ambas eram pivôs. Por que a preferência por essa posição, já que o clube conta com Marta e Karina? Você pensa em colocar a Marta na posição 3? O clube vai ficar sem uma estrangeira para o Paulista?

A Quaker na realidade tinha em seus planos inicialmente a contratação de uma estrangeira para a posição 3, porém como é uma posição que é relativamente difícil encontrar jogadoras de alto nível, mesmo no exterior, pensamos num primeiro momento de adaptarmos a Marta como 3, aliás ela estava treinando na posição na seleção e se adaptando bem até que se contundiu. A atleta bósnia eu não estava no Brasil na época e a Helena Chakirova, não teria condições de vir para o Brasil no momento, então optamos por ficarmos sem estrangeiras, apostando no grupo por nós formado. Infelizmente tivemos alguns problemas, inicialmente a Mina que já inclusive havia assinado inscrição, recebeu uma proposta do Vasco, e a direção da equipe, resolveu liberá-la, depois tivemos os problemas de contusão da Marta e da Dayse, o que reduziu o nosso plantel, além da defasagem por não termos uma estrangeira. Estamos com 4 juvenis completando o grupo, mas acreditamos que mesmo com esta limitação estamos bem preparados para disputar o título.

Como você tem avaliado as temporadas paulista e carioca (se é que há tempo para acompanhar os jogos na TV)? Se de um lado, o paulista deve mostrar um equilíbrio muito grande pela homogeneidade entre as equipes, a concentração de estrelas em Vasco e Mangueira tem massacrado os adversários no Rio. Acha que essa descentralização fará bem ao esporte?

Vejo como dos mais positivos para o basketball feminino esta descentralização,com o Campeonato Carioca,pois o que sempre lamentávamos era justamente o fato de ser excessivamente centralizado no Estado de S.Paulo, e o que é pior, só havendo equipes no interior e na grande S.Paulo, não existindo em termos de capital. Claro que este primeiro ano com a presença de Vasco e o Paraná –Mangueira, gerou um grande desequilíbrio técnico, mas em um primeiro momento não haveria outra maneira. O importante é que houve uma movimentação de novas equipes e conseqüentemente um aumento no número de participantes. O nível técnico aos poucos ira crescer. Na minha concepção vejo como das mais positivas este Campeonato Carioca, além de estar dando oportunidade de várias jogadoras, que estavam sem equipe em S.Paulo, de jogarem. O Campeonato Paulista, esta indo muito bem, lógico que há uma queda no nível técnico com a saída das jogadoras do Vasco e do Paraná- Mangueira. Existe um grupo de equipe , que estão disputando de uma maneira extremamente equilibradas 3 posições no play-off, Santo André, Guaru e Quaker, e outras 5 buscando outras 3 posições, que seria de 4 a 6 lugar.Portanto houve uma diminuição no nível técnico, mas em contra partida ganhamos em equilíbrio, e o que é mais importante envolvendo um número maior de atletas entre as equipes paulistas e cariocas, 8 em S.Paulo e 7 no Rio.

XX. O tradicional bate-bola do Painel para encerrar um papo que poderia se estender infinitamente:
O jogo que eu não esqueço:
Brasil x Rússia, Olimpíada 2000 e Brasil x Usa, Copa América em 1997.

O jogo que eu tento esquecer e não consigo:

Na minha concepção de vida, passado é referencia, minha visão é sempre para o futuro.

Um time:

Cesp/Unimep, equipe de l994: Jaque Nero, Marta, Cathy, Branca, Paula, Adriana Santos e Alessandra.

Um campeonato:

Cada um em seu momento, é óbvio que a medalha de bronze foi a competição mais marcante,ou seja Olimpíada.

Um(a) técnico(a):
Respeito e admiro. Todos os técnico que trabalham com honestidade, alguma competência e que principalmente sirvam como referencia em sua formação e exemplos de vida.

Uma atleta:
Paula e Hortência, exemplos de talento e profissionalismo, as grandes responsáveis pelo sucesso da modalidade, claro que outras se uniram a elas para as grandes conquistas.

Uma revelação:
Atualmente temos a Erica e Iziane do BCN, e a Silvia do Unimed-Americana.

Uma estrangeira:
Tivemos excelentes estrangeiras jogando no Brasil, atualmente em nível mundial, temos a Laureen Jackson da Austrália e a Lisa Leslie da USA.

Uma quadra:
O Ginásio do Gurarani,onde o Microcamp mandava seus jogos era excelente. Em nível mundial temos muitos, mas o que nos ficou na mente mais recente é o de Sidney.



< Nosso muito obrigado pelo carinho, pela atenção e nossos desejos de muita sorte, saúde e sucesso no Quaker e na seleção! >

Silvinha Luz

A Assistência é com uma das maiores jogadoras da nova geração do basquete feminino brasileiro: Sílvia Andrea dos Santos Luz, a Silvinha, jogadora do Mangueira/Paraná e da seleção brasileira de basquete (há 7 anos). Ala, 25 anos, 1,74m, 66 Kg, natural de Araçatuba. Duas vezes medalhista olímpica (96 - prata e 00 - bronze). Um Mundial (98- quarto lugar). Duas Copas Américas (93 - prata e 97 - ouro). Tricampeã sul-americana (93, 95 e 97).


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Você já deve ter contado essa história 'n' vezes. Mas vale a pena ouvir de novo. Como a família Luz se envolveu progressivamente com o basquete?

Meu pai sempre esteve envolvido no esporte especificamente com basquete.

Fomos influenciadas mas ao mesmo tempo tivemos a oportunidade de praticar outros esportes como a natação e o atletismo.

Cada uma fez sua escolha.

Nos tradicionais confrontos, você se descabelava pela Paula ou pela Hortência?



Em casa era a Helen torcendo para o time da Hortência,e eu e a Cíntia para o time da Paula.

Como foi jogar ao lado da Paula, depois ao lado de Paula e Hortência e por último só com a Hortência na Nossa Caixa Ponte Preta/Campinas?



Foi uma honra poder jogar e aprender com as duas maiores atletas do mundo.Além de atletas são pessoas maravilhosas.

Nos tempos em que a Cíntia andava por Araçatuba e Santo André e depois quando a Helen foi para o Arcor/Santo André: como era encarar as próprias irmãs?


Nunca joguei em nenhum clube sozinha.Sempre uma das duas estavam cuidando de mim.Mas sempre teremos que defender nosso clube da melhor maneira possível.Sempre torcendo para que a outra estivesse muito bem.

Quais são as principais diferenças na quadra e na vida entre as três irmãs Luz?


Somos diferentes em todos os sentidos.Cada uma tem um gênio,cada uma vive de uma maneira diferente sempre nos respeitando muito e nos querendo muito bem.

Seu pai vem fazendo um trabalho modesto, mas digno em Araçatuba. Rola uma certa 'peninha' quando vocês três aplicam uma derrota no Toledo?


A vida dele é em função do basquete.Não consigo imaginar meu pai longe disso.Sua dedicação é imensa.

Sua condição é precária mas o amor o impulsiona a continuar.Trabalhamos todos os dias e temos que defender nossa equipe independente do adversário.

A maioria das atletas brasileiras vem se rendendo a WNBA. Você pensa nisso? Já recebeu algum convite para jogar fora?


Não recebi nenhum convite mas seria um desafio muito grande.

Você já esteve no Rio, defendendo o Fluminense. Como está sendo esse retorno e a integração à Mangueira?



Ter participado de um clube de futebol como o Fluminense foi ótimo,com vitórias melhor ainda.Tivemos que matar um leão por dia para conquistarmos tudo e todos.Na Mangueira já existe um projeto social e está sendo muito importante contribuir com esta estrutura maravilhosa.Fora que esta cidade realmente é maravilhosa.


Como você tem encarado o Campeonato Carioca, no qual os adversários não conseguem se igualar a força de vocês e do Vasco? Você não teme que depois o time esteja fora de ritmo no nacional, já que as equipes paulistas estão enfrentando jogos mais parelhos?

Com certeza sentiremos o ritmo do jogo duro.Mas o campeonato é de extrema importância para nossa modalidade e sem dúvida estaremos contribuindo para o amanhã.

A base do Paraná é a mesma há muito tempo e esse é um dos trunfos do time, mas agora a equipe perdeu Vicky e Vedrana, que já estavam encaixadas no esquema da equipe. Em alguns momentos o time sente a ausência delas? Como está sendo a adaptação da Adrianne e da Muriel?

Jogadoras de alto nível sempre farão falta em qualquer equipe.Hoje nossa equipe tem outra maneira de jogar e a adaptação vem com o tempo.

Como foi a primeira partida contra o Vasco? Dá pra vencê-las na próxima?


Perdemos de uma grande equipe.Estamos nos dedicando muito para a volta.

O que significou pra você o bronze nas Olimpíadas?


Foi a conquista da superação.Uma medalha valiosa para sempre.

Como você avaliou sua participação nos Jogos?



Foi um dos piores campeonatos que já fiz.Não consegui desenvolver meu jogo,mas de alguma forma contribuí para esta conquista.O eu deve ser deixado de lado.

Que diferenças você encontra na sua participação na prata olímpica (Atlanta, 1996) e neste bronze (Sydney, 2000)? Você pontuou menos nesses jogos. Por quê?


Foram momentos diferentes que só me fez crescer como atleta e principalmente como pessoa.

Quais são seus planos imediatos em relação ao Mangueira-Paraná? E em relação à seleção?


Quero a conquistar o carioca pela Mangueira e o Nacional pelo Paraná.Sempre estarei a disposição da seleção tentando fazer meu máximo para dar muitas alegrias ao meu País.



O Bate-Bola do Painel para encerrar:

O jogo que eu não esqueço:

Final do Nacional 98 contra o BCN pelo Fluminense.

O jogo que eu tento esquecer e não consigo:

O último que perdi.

Um time:

Corinthians.

Um campeonato:

Olímpico.

Um(a) técnico(a):

Meu atual,Vendramini.

Uma colega:


Não só colegas mas amigas, minhas irmãs.

Uma estrangeira:

Vicky Bullet.

Uma quadra:

Todas que nos proporcionam desenvolver um bom trabalho.

Uma revelação:

Silvinha da Unimed Americana.

A bola que eu chutei e caiu:

As que quase nunca fazemos; do meio da quadra.

A bola que eu chutei e não caiu:

Depois de um jogo sempre me lembro das cestas que não fiz.

Uma marcadora implacável:

O time Norte Americano.



Obrigado pelo papo e toda a sorte do mundo para os próximos desafios.


Foi um prazer participar e sempre estarei a disposição.

Um beijo à todos,com carinho

Lílian

1) Já caiu a ficha ou ainda não deu tempo de acostumar com a conquista
do bronze?


Acho que agora sim, na hora você ganha e não consegue dimensionar a importância de uma medalha de bronze, fica só a euforia da vitória, mas pensando que são 209 países filiados a Fiba, tentando um lugar no pódium, já é muita coisa.

2) Você imaginava que sairia de sua primeira Olimpíada com uma medalha?


Não, na verdade não achava que minha primeira olimpíada viesse tão cedo, porém veio e veio coroada com o bronze.


3) Qual o momento mais emocionante e o mais triste durante os jogos?


O mais emocionante, particularmente eu achei a vitória contra a Rússia,
o mais triste acho que a derrota para o Canadá, ninguém esperava.

4) Você jogou apenas na partida contra o Senegal. Qual foi a sensação?
Pintou medo?


Medo não, porém dá aquele frio natural, eu estranharia se não o tivesse
sentido.

5) Por que você acha que a seleção brasileira oscilou tanto durante os
jogos?


Na verdade já pensei muito nisso, mas acho que ela oscilou nos momentos que pode oscilar, na hora em que teve que ir bem, foi.


6) Que jogadora estrangeira mais te impressionou nos jogos?


A Lauren Jackson, sua versatilidade me impressiona.

7) O que você e a seleção faziam nos intervalos entre os jogos?


Cantávamos, tinha um videokê na nossa casa, poucas vezes tivemos tempo de conhecer outro lugar que não fosse a vila ou o ginásio.

8) Você nasceu em Sorocaba, não foi? Como você começou a jogar basquete? Como chegou ao BCN?


Comecei em Sorocaba, quando tinha 8 anos, nas escolinhas de formação. Joguei lá até os meus 14 anos. Quando terminou a equipe fui chamada pelo BCN, que ainda estava em Piracicaba, foi o pior momento da minha carreira, pois eu era muito nova e não queria sair tão cedo de casa. Porém foi a melhor decisão que já tomei.

9) Você se sente melhor na posição de armadora ou na de ala?


No momento acho que vou melhor na ala, há muito tempo que não jogo na armação.

10) Você esperava ser escolhida pelo Barbosa para ir aos jogos, mesmo com a concorrência de jogadoras mais experientes, como a Cíntia Luz e a Rosângela?


Na verdade não esperava ser convocada nem entre as 17, pois eu joguei muito pouco na última temporada, porém quando você está lá, você tem que lutar de igual para igual, tem que acreditar sempre, senão não tem porquê você ficar treinando.

11) O que você espera da sua ida agora para o Arcor e a disputa do Paulista?


Espero jogar, é o que eu quero e preciso, a equipe é muito jovem e isso
me dá uma chance grande de jogar bastante se estiver bem nos treinamentos.


12)O Bate-Bola do Painel para encerrar:

O jogo que eu não esqueço: A vitória contra a Rússia.
O jogo que eu tento esquecer e não consigo: A semi final do panamericano, onde perdemos para o Canadá.
Um time: Não sei
Um campeonato: Meu tri campeonato juvenil, e meu bi adulto, ambos paulista
Um(a) técnico(a): Maria Helena

Uma colega: Minha irmã
Uma estrangeira: Helena Tornikidou
Uma quadra: A quadra onde comecei a jogar.
A bola que eu chutei e caiu: Na semi final do panamericano
A bola que eu chutei e não caiu: Eu sei que tem algumas, mas graças a Deus não me lembro agora.
Uma marcadora implacável: Não me lembro agora.

Branca - II

Um é pouco. Principalmente quando se trata de Maria Angélica Gonçalves da Silva, a Branca, uma das maiores armadoras que as quadras brasileiras já conheceram. Além disso, uma pessoa especial, sincera, que nunca cedeu às conveniências ou se utilizou de meias-palavras. Por isso ela está de volta, num longo e verdadeiro papo sobre a participação da seleção feminina nas Olimpíadas de Sydney.


Branca, hoje vamos aproveitar seus conhecimentos para dicutir as possibilidades do Brasil nas Olimpíadas que se aproximam. Mas vamos começar mais 'light'. Você disputou as últimas Olimpíadas, em Atlanta. Como foi a sensação? Como era o clima na Vila Olímpica? Qual jogo ou lance mais te marcou? Qual é a magia do evento?

Sensação: maravilhosa, por principalmente saber que dentro daquele universo existe um reconhecimento que dinheiro nenhum no mundo pode pagar.

Delegação Brasileira: Nuzzman sempre coloca a delegação brasileira distante do refeitório, da boate, do shopping, da internet, isso tem o lado bom porque realmente é agito e talvez ficaria todo mundo muito disperso, mas em compensação para almoçar, jantar era sempre uma viagem (isso em Atlanta).Fatos curiosos e interessantes acontecem todos os dias.

Ídolos: dentro da própria delegação existem atletas que temos como ídolos, simpatizantes... e isso já faz com que... Ah! Ah”! O fulano, a ciclana. Como também uma forma de entrosamento, tirar fotos, bater papo.

Lavanderia: no prédio tinha lavandeira, na ocasião não tínhamos a Matilde (manager) e revezávamos cada dia eram duas que deveria cuidar das roupas, de treino e jogo e isso era cômico, porque os meninos de outras modalidades tinham que se virar e são muito estabanados, jogam tudo de uma só vez nas máquinas, cueca com pijama, com roupa de sair...

McDonald´s: em Atlanta, nos 4 cantos da Vila tinha um, então já viu, quantas vezes entrar no Mc pra pegar batatinhas, cocas...! Que bela alimentação de um atleta!

Refeitório: sempre um lugar interessante, japoneses comendo arroz de manhã , os italianos no almoço fazendo aquele prato imenso de macarrão, (embora o carboidrato seja utilizado pela grande maioria), aqueles cubanos famintos... na verdade uma mistura em tudo, no começo da competição fica impossível achar um lugar para todo o grupo, afinal são 10/12 mil atletas + os cartolas (que não são poucos).


Sala de musculação: encontrávamos a maioria dos atletas, porque hoje existe um grande hábito de fazer peso, ou apenas fortalecimento, no dia do jogo.

Transporte dentro da Vila: carrinhos (trenzinhos) que nos levavam até o refeitório entre outras partes da Vila, era simplesmente uma Torre de Babel, porque são todas as raças, todas as línguas, todas as modalidades e diferentes seres que são simples mortais, como todos nós.

Jogo da Véspera: não tenho dúvida de que o lance que mais marcou foi a nossa passagem, o dia em que tivemos a garantia de que estaríamos disputando a medalha de ouro x EUA.

Magia: do evento é saber que entre tantos milhões de brasileiros e de seres humanos que praticam esportes no mundo, és uma pessoa privilegiada por estar lá na Vila e fazendo parte do maior evento do planeta.

Luiz Remunhão

L u i z R e m u n h ã o

A Assistência do Painel do Basquete Feminino passa a bola para Luiz Remunhão, uma figura célebre nos bastidores do basquete feminino paulista. Basta dizer que foi ele o supervisor do basquete do BCN, em sua fase mais vitoriosa. Saiu do clube, junto com Maria Helena Cardoso, antes dos recentes acontecimentos, que extinguiram a categoria adulta do clube. Agora, além de dirigente adjunto da Federação Paulista de Basquete, é supervisor da seleção juvenil feminina. Ah! Ele também é cunhado de Magic Paula e Branca. Com vocês, Luiz Remunhão!

1) Você já era um basqueteiro antes de entrar para o clã das Gonçalves? Ou as duas coisas aconteceram juntas?



Formado em Educação Física pela Faculdade de Educação Física de São Carlos, em 1973, já era "basqueteiro" desde a adolescência, muito antes portanto, de entrar para a "Família Gonçalves"o que ocorreu em 1984.



2) Gostaria que você detalhasse suas atividades iniciais dentro do basquetebol.



Como professor da Rede Estadual de Ensino, fui convidado em 1981 pela Profa. Maria Helena Cardoso para participar da Comissão Organizadora do "Torneio das Estrelas", evento que a cidade de Piracicaba realizava anualmente. Após o torneio fui convidado a trabalhar, como supervisor, da equipe da A.D.Unimep, que dava os passos iniciais na cidade de Piracicaba. Permaneci na Unimep até o início de 1988, quando me transferi para Sorocaba, trabalhando por uma temporada no C.A. Minercal, voltando a Piracicaba no início de 1989 para trabalhar no BCN, que havia assumido a equipe da A.D.Unimep. Trabalhei em Piracicaba por 8 (oito) anos, até ser transferido em 1997 para Osasco.



3) O público se lembra de você como supervisor do BCN/Osasco em seus tempos áureos. Como foi essa experiência?



Fizemos em Piracicaba um trabalho de renovação, dando oprtunidade a várias atletas que surgiam no cenário esportivo, como Claudinha, Cintia Tuiu, Cristina, Patrícia Mara, Kátia Denise, Fabiana, etc. sob o comando da técnica Maria Helena. Esta equipe foi campeã da série A-2 (em 1995), ganhando o direito de participar da Divisão Especial. A Diretoria do BCN em busca de uma estrutura melhor para desenvolver seus projetos, firmou um convênio com a Prefeitura de Osasco e a partir de 1997 nos transferimos para Osasco, onde a equipe teve um desenvolvimento extraordinário, sagrando-se Bi-Campeã Paulista (97-98), Vice-Brasileira (97), Campeã Mundial de Clubes (98). Foi uma experiência gratificante, pois o Projeto BCN Esportes, com as vitórias da equipe adulta, solidificou-se e arrebanhou milhares de crianças da cidade de Osasco para participarem de seus núcleos de formação de novas atletas, que permanece até os dias atuais.



4) Se não estou enganado, na reformulação do BCN, você também deixou o clube, junto com a técnica Maria Helena Cardoso. Depois disso você não trabalhou mais com clubes. Pensa em trabalhar? Recebeu convites?



No início de 1999, na reformulação do BCN, como você diz, saímos (Maria Helena, Heleninha e eu) do Clube, após trabalhar nele por mais de 10 (dez) anos e com a sensação de perda de um ente muito querido. Não trabalhei mais em nenhum clube, pois penso em fazer basquete novamente em Piracicaba (apesar das dificuldades), mas estudaria com muito carinho qualquer convite para voltar a trabalhar em clubes.



5) No momento, você vem trabalhando como supervisor da Confederação Brasileira de Basquete. Qual é seu raio de ação? Você está acompanhando somente a seleção juvenil feminina?



Fui convidado pela técnica Heleninha para ser o supervisor da Seleção Brasileira Juvenil Feminina e venho acompanhando-a desde a conquista do Sul Americano no Chile em 98, e mais recentemente, a conquista do 3º lugar e a vaga para o Mundial Juvenil, em 2001, na República Tcheca.



6) Você esteve presente na disputa da Copa América de seleções juvenis, na Argentina, competição na qual o Brasil ficou com a medalha de bronze. O que falta para que o trabalho de base brasileiro possa se equiparar ao cubano e, quem sabe um dia, ao norte-americano?



O trabalho de base brasileiro ainda é superior ao cubano, mas está anos-luz atrás dos norte americanos. Temos que aumentar a participação dos Clubes na formação de novas atletas, pois atualmente poucos se dedicam a esse trabalho, casos específicos de Americana, Jundiaí, Osasco, Santo André, o que convenhamos é muito pouco para estarmos na elite do basquete mundial.



7) Qual é o perfil dessa nova seleção juvenil ? Predomina o trabalho de pivôs? É um grupo mais homogêneo? Tem qualidade para estar breve na seleção adulta?



Temos uma seleção juvenil com o melhor do momento no basquete Feminino Brasileiro, uma seleção alta (média de 1,82 mts) onde predomina a filosofia da técnica, que é "defesa forte, transição rápida" que é a própria filosofia do basquete brasileiro. Temos jogadoras de qualidade, que com mais experiência internacional, sem dúvida, brevemente defenderão a Seleção Adulta. Temos a promessa do presidente da CBB, que a partir de janeiro de 2001, esta Seleção Juvenil terá todo apoio possível para desenvolver um plano de trabalho visando uma preparação adequada para bem representar o Brasil no Mundial.



8) Já que falamos do adulto, quais as sua expectativas para as Olimpíadas? Vamos sobreviver na elite sem Hortência e agora também sem Paula?



Esta Seleção Adulta possui um grupo mais homogêneo e bastante experiente; apesar de conhecer todas as atletas desta seleção, acredito que elas sentirão o peso de participar de uma competição tão importante como as Olimpíadas, sem dúvida, sentirão a falta dessas extraordinárias ex-jogadoras Paula e Hortência. Para esse grupo se firmar na competição, o comando (treinador e comissão técnica) terá um papel muito importante, transmitindo firmeza, determinação e confiança às atletas.



9) Como representante do basquete paulista, como você acha que o campeonato reagirá ao exôdo das estrelas para o Rio de Janeiro e à vinda das cubanas?



Como Diretor adjunto do Basquete Feminino da Federação Paulista de Basketball, trabalho e torço para que o basquete paulista continue forte e trabalhe na base, sendo importante por isso a vinda das atletas cubanas, pois além de reforçar as equipes, servem como "espelho" para as atletas que se iniciam no esporte.



10) Como aumentar a prática de basquete no país e evitar que os campeonatos tenham apenas seis equipes (como o Paulista e provavelmente o Carioca), ou oito no caso do Nacional?



Sem dúvida, aumentar a prática de basquete no País é o desejo de todos nós, mas sabemos que, principalmente no feminino as dificuldades são maiores, por falta de clubes formadores de atletas, de campeonatos regulares, a falta de patrocinadores, o descaso dos governos para com os projetos envolvendo crianças no esporte, etc.

Em São Paulo, a desvalorização da matéria de Educação Física na escola pelo Governo Estadual ocasionou a falência dos campeonatos colegiais e outros eventos da Secretaria Estadual de Esportes, que sempre foram um "celeiro" para o surgimento de promessas para o esporte de São Paulo.



11) Obrigado pelo papo! Um grande abraço do Painel e o desejo de sorte e sucesso em seus projetos pessoais e profissionais!



Agradeço a oportunidade de manifestar a minha opinião neste site muito interessante para os amantes do Basquete Feminino

Sérgio Maroneze

Citado em um dos casos do Procura-se, aqui no Painel, o assistente técnico da seleção brasileira de basquete feminina em seu período de maiores glórias (93 a 96), Sérgio Maroneze Duarte entrou em contato para complementar as informações sobre seu paradeiro. Deste contato nasceu um papo franco e revelador com o qual o braço direito de Miguel Ângelo da Luz nos brindou.

Assistência - Sérgio Maroneze, professor universitário e assistente técnico da seleção brasileira de basquete feminino entre 1993 e 1996

1) O comando da seleção pelo técnico Miguel Ângelo da Luz, por Waldyr Pagan e por você foi a mais vitoriosa da história do basquete feminino no Brasil. O que você fazia antes de receber o convite para trabalhar na seleção? Quais eram suas experiências anteriores no basquete?

Comecei minha carreira em Porto Alegre, dirigindo a equipe escolar feminina do Colégio Farroupilha em 1984. Em 85 a Sogipa abriu o feminino e eu fui dirigir infanto, juvenil, principal e coordenar as demais categorias. No final daquele ano fui convidado para integrar a comissão técnica da equipe feminina da University of Cincinnati e, ao mesmo tempo, recebi outro convite para ir trabalhar com o professor Waldir Pagan na Minercal de Sorocaba, onde a Hortência estava jogando. Optei por ir para os Estados Unidos, e passei a temporada 85/86 lá, quando então, finalmente, o Waldir me convenceu a voltar. Fiquei na Minercal em 86 como assistente da equipe principal e como técnico do juvenil. Em 87, o professor Vendramini foi contratado como técnico do principal, e eu passei a dirigir o juvenil, o mirim e o mini. Em 88 fui para o EMAS da cidade de Salto ser assistente do professor Paulo Siviero no principal e técnico do juvenil. Em 89, com a saída do Paulinho, fiquei como técnico das duas categorias. De 91 a 93 trabalhei no Clube Atlético Taboão da Serra (A2). Em 94 e 95 fui para Belém do Pará, como técnico da equipe principal masculina do Clube do Remo.

2) Você e o Miguel assumiram em meio a muita desconfiança. Como foram as primeiras impressões e o primeiro torneio (o Sul-Americano de 1993, se não me falha a memória)?

Eu e o Miguel nos conhecemos quando fomos dirigir a seleção juvenil num Sul Americano no Chile em julho de 92. Em agosto fomos para o México com o mesmo juvenil onde ganhamos a Copa América Juvenil. Voltamos a nos encontrar em 93 para o Sul Americano adulto, mas eu só participei da fase de treinamento em Campos do Jordão, quem foi como assistente do Miguel naquela competição foi o professor Norberto (Borracha). A desconfiança das pessoas naquele momento tem que ser encarada com naturalidade, historicamente a quebra de paradigmas é vista com reservas e no nosso caso não foi diferente.

3) Logo depois, o Brasil disputou a Copa América, em que mostrou um basquete consistente, chagando a vencer a seleção norte-americana, na qual já despontavam Lisa Leslie e Ruthie Bolton, mas ficou com a prata. Mas o torneio acabou mexendo com a torcida, que lotou o Ibirapuera. Ali vocês já viram que aquela mescla entre as mais experientes (as titulares Hortência, Paula, Janeth, Marta e Ruth) e as quase juvenis (Leila, Silvinha, Helen, Alessandra, Roseli, Lígia) poderia dar um bom resultado?

Por já haver trabalhado com as juvenis em 92, sabíamos do potencial delas, o que colaborou para que o Miguel confiasse nas trocas durante as partidas. Outro ponto fundamental é que elas cresceram enormemente durante a competição, conquistando seus próprios espaços.

4) Na convocação para o Mundial de 1994, a comissão técnica decidiu por não convocar a pivô Marta Sobral, uma decisão que foi criticada por todos. No final, mostrou-se acertada: a atleta se esforçou para voltar à seleção e não se acomodar, o Brasil foi campeão e revelou novas pivôs. Foi difícil tomar uma decisão tão corajosa assim?

Um dos principais fatores que ajudaram a alicerçar as conquistas enquanto estivemos juntos na seleção, foi que havia uma comissão técnica trabalhando, tomando decisões, dividindo tarefas, dividindo responsabilidades, programando treinos e atuando em conjunto. Nós nunca fizemos opções de cunho pessoal. Nos reuníamos diariamente e todos manifestavam seu ponto de vista até que se chegasse num conscenso à respeito da decisão que seria, então, pública. O corte da Marta foi complicado não só porque ela era considerada uma ótima jogadora na posição (pivô), mas também em função da incontestável versatilidade dela na quadra.

5) A preparação para o Mundial de 1994 não foi 'teoricamente' o melhor que se podia ter feito. Foram dois meses de treinamento. Os amistosos se limitaram às inexpressivas argentinas e eslovenas e às tradicionais cubanas. Em solo australiano, perdemos para australianas e americanas por placares dilatados e por pouco não perdemos também para a seleção juvenil australiana. Como o grupo encarou esses resultados às vesperas do torneio?

A fase de treinamento foi, dentro do nosso contexto, a melhor possível. Ficamos praticamente toda a primeira fase em São Roque num hotel cinco estrelas, com todo apoio que precisávamos. Concordo quando você diz que os amistosos contra a Argentina não acrescentaram muita coisa. No caso da Eslovênia, esperávamos um adversário melhor, ficamos surpresos quando elas não corresponderam às nossas expectativas. Quanto as cubanas, só faltou sair faísca nos jogos, elas foram muito competitivas em todas as ocasiões.
Quando chegamos em Melbourne para participar de um torneio pré campeonato Mundial, perdemos para a Austrália e para os EUA em partidas que a nossa equipe não conseguiu jogar, literalmente. Não houve tempo para que as jogadoras se adaptassem ao fuso, os critérios da arbitragem deles eram muito diferentes, enfim, foi terrível. Já na terceira partida, contra a seleção juvenil da Austrália, foi diferente: a arbitragem da casa não nos deixou jogar e o jogo quase não acabou por esse motivo. Na entrevista após a partida, questionado a respeito do episódio, respondi que a maior prejudicada com tudo aquilo seria a seleção australiana, já que durante o Mundial eles não poderiam fazer uso daqueles artifícios de defesa ilegal sem serem penalizados pela arbitragem da FIBA. Não deu outra. O grupo se valeu desse último episódio para se unir, aquilo sacudiu com os brios de todos nós.

6) Há receita para uma preparação adequada para um torneio de importância como Mundial e Olimpíadas?

Receita ? Acho que o bom senso deveria privilegiar a preparação da seleção, com Federações e Confederação acertando os calendários com anos de antecedência, verbas coerentes sendo direcionadas não só para os dois meses que antecedem a competição, mas para a preparação a longo prazo. Talvez então os técnicos pudessem acompanhar o campeonato europeu, o asiático, etc, e agendar tantos amistosos internacionais quantos fossem necessários para dar a bagagem que as nossas atletas precisam para chegar ao Mundial ou Olimpíada como nós desejamos e elas também.

7) Qual foi o jogo mais sofrido para você no Mundial: aquele drama contra as espanholas, ou a surpreendente semifinal com as americanas (ou outro)?

O mais sofrido foi o terceiro jogo da fase de classificação (contra a Polônia), porque após ganhar de Taipei e perder para a Eslováquia, estávamos na obrigação de ganhar da Polônia, então a ansiedade e a responsabilidade aumentaram muito. Já quando chegamos na semi final contra os EUA, o plano de jogo estava prevendo uma série de alternativas táticas para se estivéssemos em desvantagem no marcador já no primeiro tempo, mas a equipe foi excepcional e não houve necessidade de fazer outra coisa senão aquelas que foram escolhidas como a estratégia inicial.

8) Como foi a sensação dos primeiros dias como campeão mundial?

Houve dois momentos bem diferentes: quando chegamos ao Brasil viajei para Porto Alegre para visitar meus pais e fui convidado por todas as redes de televisão para dar entrevistas ao vivo em programas de esporte. Como a seleção brasileira de futebol estava na Copa do Mundo, só se falou do basquete feminino nas nossas últimas três partidas. O jornalista Juarez Araújo, na época na Gazeta Esportiva, foi o único profissional de imprensa que fez a cobertura total direto da Austrália.
Quando voltei para São Paulo, no início de agosto, me reapresentei à escola onde trabalhava. Levei a medalha comigo e cheguei todo orgulhoso... Para encurtar a história, a direção me deu os parabéns e pediu para que eu fosse até o departamento pessoal. Eu havia sido demitido. Daí para frente foram onze meses muito difíceis, mas que me ensinaram muito.

9) Antes das Olimpíadas, outro momento difícil ocorreu. A comissão, com a reincorporação de Hortência, cortou a armadora Nádia, optando por Silvinha. Novamente, houve acerto: a ala-armadora fez um torneio bastante consistente para sua poca experiência. Como é a missão de cortar uma atleta do grupo e quais são os principais parâmetro a serem analisados?

Como comentei anteriormente, trabalhávamos em equipe. Quando alguma jogadora era cortada por critério técnico, assumíamos a responsabilidade da decisão. O corte da Nádia foi uma decisão muito complexa, e infelizmente, não foi o primeiro que fizemos. A missão de cortar é dolorosa para todos, não só para a comissão, mas faz parte do trabalho na busca da equipe que, naquele exato momento e naquelas circunstâncias, parece ser a mais adequada para os propósitos da competição.

10) Nas Olimpíadas, outra campanha fantástica que mesmo com a prata não perde o brilho. Mas, infelizmente, passou a impressão que as americanas eram imbatíveis. O que aconteceu naquele dia? Elas estavam imbatíveis ou nós estávamos tranquilos demais com a prata?

As duas coisas, por mais paradoxal que possa parecer. Os EUA gastaram U$ 1 milhão na preparação da equipe, o Brasil gastou R$ 300 mil... Elas escolheram 12 atletas entre quase 200, nós escolhemos 12 entre 24..., elas fizeram mais de 50 amistosos na fase de preparação, nós... Por outro lado, concordo com a opinião da Magic Paula quando ela diz que a equipe se satisfez depois de ganhar da Ucrânia.
Há também outro motivo: O Miguel e eu sempre organizamos os planos de jogo baseando-nos nas características das adversárias (tanto individuais como coletivas) assistindo videos e marcando jogadas e, é claro, nas estatísticas. Dessa forma não deixamos a Haixia jogar na final na Austrália, só para exemplificar. Na final em Atlanta, seguimos o padrão, porque até aquele jogo mais ou menos 70% dos pontos das americanas eram feitos pelos pivôs. Só no primeiro meio tempo sofremos quatro cestas dos três pontos, coisa que elas não haviam feito somadas todas as partidas do campeonato até então. Apesar disso, quando faltavam dois minutos para acabar o primeiro meio tempo, estávamos em desvantagem de somente sete pontos.

10) Você acha, hoje, que foi acertada a decisão de recusar-se a enfrentar as americanas na fase de amistosos antes da Olimpíada?

Acho.

11) Mesmo com esses bons resultados, você e o Miguel queriam deixar a seleção, o que acabou acontecendo. Por quê?

Eu havia decidido sair, mas só afirmei isso publicamente após o jogo contra a Ucrânia, e o motivo principal é que eu estava quebrado financeiramente. Fiquei doiss anos sendo o único membro da seleção que participava de todas as comissões: era o técnico do juvenil e do cadetes e assistente do principal. Minha escola me dispensava sem remuneração e a "ajuda de custo" da Confederação era ridícula. Já o Miguel, após o Mundial, fez merecidamente dois ou três bons contratos com o Flamengo, e havia um desgaste natural na seleção em função do cargo dele e da pressão que ele nunca parou de sofrer: era pedrada de todos os lados o tempo todo. Como, na realidade, ele tinha outra opção no clube, achou que era a hora certa de sair.

12) Nesse tempo todo, você acabou não sendo incorporado ao basquete de clubes. Por quê? faltaram convites ou você não se interessava?

Houve um convite formal de uma grande equipe, que acabou não se concretizando na prática por circunstâncias meio obscuras para mim até hoje. Recebi alguns convites para dirigir por hobby e não aceitei porque quem me conhece sabe que gosto de propostas sérias, e de trabalho comprometido com a grandeza que o basquete feminino merece.

13) Em 1997, circulou a notícia que o Waldyr Pagan estaria tentando montar uma equipe na capital paulista e que você seria o técnico. O que aconteceu com esse projeto?

O Waldirzão me ligou e disse: "Gaúcho, começa a pensar em reorganizar sua vida porque tem um patrocínio para uma grande equipe de basquete feminino saindo do forno, e você vai ser o técnico..." Mas, como é supersticioso, só contou o provável milagre e eu nunca fiquei sabendo o nome do santo, nem porque não vingou o projeto.

14) Você ainda mantém contato com essa figura fantástica que é o Waldyr Pagan, que infelizmente não usufrui do valor que tem para o nosso basquete?

Você disse tudo, é uma grande figura... Risos... Daria para escrever um livro só contando as maravilhosas histórias do Waldir dentro do basquete... Temos nos visto pouco, mas falamos regularmente pelo telefone (sem telefone o Waldir não vive) e almoçamos juntos dois meses atrás. Ele continua espirituoso como sempre foi, e está muito elegante depois de ter feito uma dieta. Fico feliz de você ter perguntado dele. Ele merece ser lembrado sempre que se falar de basquete feminino.

15) Fale um pouco de suas atividades no momento e dos seus planos profissionais (há o sonho de voltar ao basquete de alto nível?).

Sou professor da disciplina de Basquete I e II da Universidade Bandeirante (Uniban), Centro Universitário Nove de Julho (Uninove) e da Universidade Metodista de São Paulo, leciono para alunos do curso de Educação Física. Fiz pós graduação Lato Sensu em Tecnologia Educacional e estou terminando a pós graduação Stricto Sensu (mestrado) em Educação. Em 97 e 98 dirigi a equipe de basquete feminino da Uniban nos torneios da FUPE e da Liga Universitária, foi muito interessante e diferente. Quanto a voltar para o alto nível, não sei se a frase é do professor Daiuto, mas está num de seus livros: "Felicidade é ter como ofício a paixão." Se for possível conciliar, um dia, a minha paixão e a minha conta bancária, volto correndo !!!

16) De fora, como você vê o trabalho que vem sendo feito?

De vidraça a pedra ? Não, obrigado. Eu não vou fazer com o Barbosa o que ele fez conosco, isso não seria elegante da minha parte. Confio no trabalho e na seriedade do assistente técnico, professor Paulo Bassul. Confio também nas jogadoras, porque, independentemente do resultado final, elas terão dado o melhor de si para a seleção. Em todo tempo que trabalhei com Hortência, Paula, Janeth, Alessandra e cia. nunca tive uma ordem tática contestada, elas estão acostumadas a ser dirigidas e são muito disciplinadas e fiéis às orientações dos técnicos.

17) Como ténico, qual a sua opinião da ausência de jogadoras importantes que estão na WNBA da fase de treinamento?

Isso é circunstancial. Se tivéssemos estrutura para fazer o campeonato que o nosso basquete feminino merece, com maior número de clubes e de estados participando, as jogadoras não iriam para a WNBA, até porque os salários daqui são melhores em se tratando dessas jogadoras consideradas "top". A seleção precisa das 12 melhores. Temos que administrar a situação e ver o lado das meninas também.

18) Quais são os seus palpites para Sidney?

Na minha opinião, a forma de disputa da Olimpíada é mais generosa do que a do Mundial. Há tempo de corrigir distorções entre um jogo e outro. Austrália e EUA devem fazer a final. Vou ficar muito contente se puder torcer pelo Brasil na disputa pelo bronze...

19) Um grande abraço e obrigado pelo papo!

Eu é que agradeço pela oportunidade e pelas perguntas bem formuladas. Um abração !!!

Maria Helena Cardoso

Desde o início do ! Painel ! estamos à procura de Maria Helena, uma personagem única na história do nosso basquete e de talento também ímpar. Antes mesmo da contratação da técnica pelo Vasco, já tentávamos o contato. Atenciosa, a treinadora aceitou em nos conceder a entrevista, mas acabou recuando pela correria e por não estar interessada em recontar a sua história no BCN/Osasco. Mas agora, Maria Helena está de volta ao basquete e aceitou nosso convite. As quadras agradecem e nós também!

Com vocês, Maria Helena Cardoso, técnica da equipe de basquete feminino do Vasco da Gama (RJ)

1) Muita gente está feliz com a sua contratação pelo Vasco da Gama. Mas antes disso, quais eram seus planos? O que você estava pensando em fazer e por que ainda não havia voltado para as quadras?

Antes de ser contratada pelo Vasco, já estava sentindo falta das quadras e da "bola laranja", então estava tentando iniciar um projeto aqui em Piracicaba. Fora isto, estava viajando bastante, "carregando as pilhas". Não tinha voltado ainda, porque só Deus sabe qual é a hora certa.

2) Conte os detalhes pra gente da sua negociação com o Vasco da Gama. Foi uma decisão bem rápida, não?

Sim, foi muito rápida. Há algum tempo atrás, alguém me falou que o Vasco iria formar uma equipe de basquetebol feminino e que eu iria ser convidada. Como eu admirava o projeto que o Vasco vem fazendo com o esporte amador, me preparei psicologicamente, caso acontecesse o convite. Ele veio, eu já estava pensando em voltar ao basquete, tinha vontade de trabalhar novamente, então não titubeei, fui ao Rio e em menos de 2 horas acertei tudo com o dirigente do Vasco, o Sr Fernando Lima. O reconhecimento pela oportunidade que estava recebendo, e a confiança que o Vasco deposita em meu trabalho, me impulsionam a trabalhar muito para não decepcioná-los.

3) O surgimento desse novo campo de trabalho resultou da desistência de um projeto que você 'gerou' - o do BCN. Já pensou nessa coincidência?

Não acredito em coincidências. Acredito em "presentes " de Deus. E este foi mais um presente que recebi: PODER VOLTAR ÀS ATIVIDADES DE TÉCNICA E AINDA MAIS EM UM CLUBE COMO O VASCO.!

4) Você reestruturou o projeto do BCN e transformou um time de juvenis no melhor time brasileiro. Se você se sentir à vontade para isso, fale um pouco dessa história tão bonita, que acabou de forma melancólica - com a sua demissão da equipe.

Não gostaria de falar mais desse passado. Vinicius já dizia: "O amor é bom enquanto dura". Meu projeto com o BCN foi sempre uma relação de amor. Guardo grandes e boas recordações, alias elas são muito mais importantes do que o final desta história.


5) E agora: Vascaína desde criancinha?

Agora, como sempre fiz em minha vida, darei o melhor de meus esforços para ajudar o Vasco nessa nova empreitada com o Basquete Feminino Brasileiro. Visto, com muito orgulho, a camisa vascaína, e acho até que é um privilégio poder vestí-la.
6) Detalhe melhor os planos do Vasco para o time adulto.

Estamos ainda na fase de estruturação da equipe adulta. Os planos, são da alçada do Vasco.Nós integrantes da Comissão Técnica tudo faremos para tornar o Vasco uma escola de basquetebol feminino no Rio de Janeiro . Já foram contratadas grandes jogadoras,e sem duvida teremos uma grande equipe.


7) O trabalho de renovação vai ser uma das metas do clube?


De início vamos estruturar a equipe adulta e juvenil. Posteriormente, pretendemos formar também as equipes menores e principalmente núcleos de iniciação em basquetebol feminino na cidade do Rio de Janeiro, a qual, eu acredito ser um campo sensacional de talentos a ser desenvolvidos.

8) A Heleninha vai ser sua auxiliar?

Da Comissão Técnica farão parte ainda a Heleninha, como assistente do adulto e técnica do juvenil e o João Nunes como preparador físico.

9) O que você pode adiantar do Campeonato Carioca?

Espero que os outros clubes do Rio se motivem a formar também grandes equipes, para que o Campeonato Carioca possa ser muito disputado. Tenho esperança que isto aconteça.

10) Vocês pretendem extrapolar o ranqueamento da CBB, na intenção de formar um super-time?

Isto não me diz respeito. É uma pergunta a ser feita aos dirigentes do Vasco. Sou apenas técnica.



11) Como é a sensação de voltar ao trabalho com jogadoras que você ajudou a formar, como a Claudinha e, principalmente, a Micaela que era uma juvenil no BCN e hoje é uma jogadora em franca ascenção?

É um grande alegria poder voltar a trabalhar com estas jogadoras que você citou,e com todas as outras que trabalharão comigo. Elas são atletas que amam o que fazem, e isto já nos identifica.


12) Você estava nos Estados Unidos. Estava de olho em reforços estrangeiros?

Fui ao Estados Unidos em visita a um sobrinho que mora por lá. Mas, como boa "basqueteira" aproveitei para assistir alguns jogos da WNBA.De repente.... ver alguma jogadora.....


13) Como você avalia o momento do basquete brasileiro no panorama internacional? O que falta à seleção para manter a qualidade com a saída de Paula e Hortência?

Acho que o Brasil continua junto das grandes potencias do Basquetebol Feminino mundial. É apenas questão de tempo para que está equipe atual alcance grandes resultados internacionais, e com certeza estas atletas da geração atual também deixarão suas marcas no engrandecimento do basquetebol feminino brasileiro.

14) Qual o momento de maior felicidade dentro da sua carreira, primeiro como jogadora e depois, como treinadora?

Como um daqueles "Presentes de Deus" que vocês chamam de coincidências, meus melhores momentos como jogadora e como técnicas foram nos Jogos Panamericanos. Em 1971 fui Campeã Pan-americana em Cali,Colombia. Vinte anos depois, como técnica fui Campeã pan-americana em Cuba.


15) Sei que é difícil, mas queria que você apontasse alguns nomes em que você aposta para as próximas competições.

Como no basquetebol valorizo o trabalho da equipe, não gostaria de destacar apenas um nome. Acredito na homogeneidade equipe feminina brasileira para as próximas competições.



16) Quais as suas expectativas para os Jogos Olímpicos de Sydney?


Tenho a expectativa de que o Brasil realmente possa ser um país olímpico e que nosso basquetebol feminino melhore ou mantenha a posição conquistada em Atlanta.

17) Talvez ninguém mais que você possa analisar a qualidade do trabalho de renovação realizado no Brasil. Está havendo renovação ou estamos correndo riscos?

Infelizmente, em nosso país pouca gente investe em categorias menores.
As empresas,felizmente agora estão percebendo o valor dos investimentos em categorias de base, com o intuito de educar nossas crianças. Isto é um alento para que no futuro possamos ter mais participantes da modalidade
Acredito ser preciso também formar mais técnicos, especialmente para outros estados.Se dermos condições, nosso país tem um potencial humano muito bom.

18) O Bate-Bola do Painel para encerrar:
Vamos ao Bate Bola!

O jogo que eu não esqueço: vitória final do Pan-americano de Cuba
O jogo que eu tento esquecer e não consigo: a derrota, na prorrogação ,para Cuba nas Olimpíadas de Barcelona, que nos tirou a chance de disputar uma medalha.
Um time: O Vasco, é lógico!
Um campeonato:Os Jogos Pan-americanos de Cuba (91)

Um(a) técnico(a) adversário(a): Laís, por admirar o trabalho que ela durante tantos anos desenvolve em Santo André.
Uma estrangeira: sem dúvida, Elena Tornikidou. Grande atleta e grande pessoa.
Uma atleta: Todas as que trabalham e lutam com amor para dignificar nosso basquetebol feminino, não só como jogadoras, mas também como pessoas.
Uma quadra: Está aí uma coisa que nosso país está precisando melhorar!!!!Ainda assim, o Ginásio do Ibirapuera.
Um exemplo: A dedicação e perseverança do pessoal do basquete em cadeiras de rodas.


Obrigado pela entrevista. Um grande abraço do site PaineldoBasquete e o desejo de muita sorte e suor nesse seu aguardado retorno às quadras.
Eu é que agradeço a oportunidade. Abraços!

Fábio Sormani

1) Como surgiu o seu interesse pelo basquete?
R - Sempre gostei de basquete, ou melhor, de esporte. Quando estudava, joguei em times de escola, especialmente em Bauru, cidade onde cresci, que fica no interior do Estado de São Paulo. Mas não foi nada a sério, até porque sempre fui um perna-de-pau, infelizmente. Quando comecei a trabalhar como jornalista, busquei a área esportiva, porque, como disse acima, sempre gostei de esporte. Infelizmente, aqui no Brasil, o sinônimo de esporte é futebol. Eu adoro futebol também, tanto assim que comento futebol pela Rádio Bandeirantes de São Paulo. Escrever sobre basquete sempre foi um dos meus sonhos. Comentar também. Felizmente, com o advento da TV a cabo, outros esportes, como o basquete, tênis, vôlei, natação, futsal, handebol, entre outros, passaram a ter destaque na mídia e eu consegui realizar meu sonho de trabalhar com o basquete.



2) Em quais órgãos de imprensa você já cobriu basquete?
R - Antes de chegar ao SporTV, trabalhei na ESPN Brasil. Lá, além de comentar os jogos do Campeonato Carioca, criei um programa -- que existe até hoje --, chamado "Por Dentro do Basquete". A gente destacava tudo: Brasil, EUA, Europa e também o basquete das categorias de base. Um pouco diferente do que vai ao ar atualmente, e que eu também considero muito bom. Antes da TV, no entanto, escrevi sobre a NBA no jornal "Folha de S.Paulo". Lá, por idéia de um ex-editor de esportes da "Folha", Sérgio Sá Leitão, um grande amigo e um grande jornalista, foi criada a coluna de basquete -- que existe até hoje. O nome, porém, era "Basquete no Mundo". Era muito gostoso. Escrevi por cerca de cinco anos. Foi o meu trabalho na "Folha" que abriu as portas para a TV a cabo. Atualmente, além de trabalhar com o basquete no SporTV, tenho uma coluna semanal sobre basquete no site iG. O endereço é o seguinte: www.ig.com.br.


3) Não há planos para ressucitar o BASKETMANIA no SPORTV?
R - Infelizmente, a curto prazo, não há qualquer projeto neste sentido. O "Basketmania" poderia ser ressucitado se houvesse uma pressão por parte dos assinantes pedindo a volta do programa. Adoraria que isso acontecesse, mas, infelizmente, não depende de mim. Os custos do programa eram altos demais.


4) Durante algum jogo, você já elogiou uma jogadora e de repente ela fez tudo errado ou criticou-a e ela arrebentou? Conte pra gente!
R- Com certeza isso deve ter acontecido, pois a gente erra também. Sinceramente, não me lembro de nenhum caso. Mas, repito, isso deve ter acontecido.


Você tem mais experiência que a galera aqui do Painel. Talvez possa ajudar-nos a ver melhor as seguintes questões:

5) Por que a pivô Karina ainda não pode jogar pela seleção? É uma decisão imparcial da FIBA ou sinaç da fraqueza política da CBB?
R - Diria que as duas coisas. A Karina, infelizmente, ainda como juvenil, atuou pela seleção principal da Argentina. De acordo com as regras da Fiba, ela não pode mais defender outro país. No entanto, o pivô Hakeem Olajuwon, do Houston Rockets, quando ainda juvenil, jogou pela seleção da Nigéria, onde ele nasceu. Olajuwon naturalizou-se norte-americano em 1992. A Fiba exige, também, que o processo de naturalização tenha pelo menos quatro anos para que um jogador possa defender seu novo país. A CBB falou sobre o caso Olajuwon para a Fiba, mas ela respondeu que Hakeem jogou pela seleção juvenil e não a principal e por isso ele foi aceito no "Dream Team" que disputou os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. Para mim, todavia, seleção é seleção, não importa qual categoria. Infelizmente, o poderio norte-americano é bem maior do que o brasileiro. Hakeem pôde jogar pelos EUA e Karina não pôde defender o Brasil.


6) Por que é tão difícil conseguir patrocínio no basquete?
R - Não é apenas no basquete que é difícil conseguir patrocínio. Veja os casos de Santos, São Paulo e Atlético Mineiro, entre outros times grandes do futebol brasileiro, que estão tentando fechar acordos com empresas, mas não conseguem. E isso tudo com a grande visibilidade do futebol na mídia. Imagine esportes como basquete e vôlei. Penso, no entanto, que há uma certa má vontade por parte das empresas brasileiras e multinacionais e apostar em produtos como o basquete. Além disso, a CBB poderia ser mais agressiva no marketing -- e ela não está sendo.


7) Como você encarou o último Campeonato Nacional Feminino?
R - Foi uma pena o que aconteceu nas semifinais, com a eliminação do BCN. Isso não poderia ter acontecido. Na minha opinião, creio que o BCN aproveitou-se do caso para retirar o patrocínio do basquete. Acho que eles estavam querendo pular fora. Não havia motivos para eles saírem do basquete, em que pese a punição sofrida, pois o regulamento previa que se um time recorresse seria eliminado. Então, o pessoal do BCN sabia que isso não era permitido -- e recorreu. A CBB deu uma demonstração de seriedade ao punir o BCN. Penso que isso manchou bastante as finais do feminino. Depois, na decisão, venceu, de fato, o melhor: o Paraná Basquete. Como contestar um 3x0!


8) O que poderia ser feito para melhorar o Campeonato Nacional?
R - Penso que o ranqueamento no feminino tem de ser mantido. É benéfico, pois evita que um time apenas concentre as melhores jogadoras do país. Imagine você se o Vasco puder contratar todo mundo! O Campeonato Nacional do ano que vem não terá a menor graça. Então, o ranqueamento é saudável e tem de ser mantido. Como disse acima, a CBB deveria melhorar o marketing dela. Acho que a confederação deveria estreitar o relacionamento com a WNBA e ver como eles fazem as promoções para melhorar o nível de público nos ginásios. Com arenas lotadas, a mídia se interessa em noticiar. Com a mídia noticiando, as empresas aparecem. E tudo melhora. Mas, na minha opinião, o que deveria ser feito -- tanto no feminino quanto no masculino -- era um Campeonato Nacional mais longo. O Campeonato Nacional não pode ter o mesmo tempo de duração dos regionais. Desta maneira, fica difícil você desenvolver o basquete nos outros centros.


9) Quais as suas expectativas para as temporadas paulista e carioca de basquete feminino?
R - Infelizmente, não tenho qualquer expectativa, pois, ao contrário dos EUA, onde daqui um mês a gente vai ficar sabendo da tabela da NBA para a próxima temporada, aqui no Brasil a gente não sabe quem é que vai disputar este ou aquele campeonato. Como, então, ter qualquer expectativa? Mas não é preciso citar só a NBA, veja o caso do automobilismo, onde a FIA já anunciou o calendário da próxima temporada da F-1 e o GP do Brasil será no dia 1o. de Abril.


10) Como você qualifica a renovação no feminino? O trabalho de base não está órfão?
R - A renovação é boa, pois temos boas jogadoras aparecendo. Fiquei muito feliz ao saber que a técnica Maria Helena Cardoso está de volta ao basquete feminino. O time de Osasco foi montado e revelado por ela. Maria Helena não pode ficar, jamais, de fora do basquete feminino. Para mim ela é a melhor treinadora que temos. Quanto ao trabalho de base, acredito que ele está sendo bem feito, mas, infelizmente, basicamente concentrado em São Paulo e com alguma coisa sendo feita no Rio. Gosto da política atual da CBB, que tem procurado dividir um pouco as convocações das seleções de base para a disputa dos sul-americanos, pois isso ajuda a incentivar outros centros a formar jogadoras. Acho também correta a política da CBB em fazer jogos da seleção em vários Estados do Brasil. O nosso maior problema é a falta de dinheiro para termos campeonatos e mais campeonatos. Não é barato fazer um torneio em nível nacional envolvendo os principais Estados brasileiros.


11) Em que jovem jogadora você aposta suas fichas?
R - Gosto demais da Cristina, que atuava pelo Osasco, e que agora está no Santo André. Ela é uma espécie de "faz-tudo" ("swing-player", como dizem os americanos) em quadra. Pode atuar em várias posições -- e sempre com muita competência. Infelizmente, ela ficou parada quase um ano em função de uma contusão no joelho. Voltou este ano e em grande forma. Não fosse a contusão, penso que o técnico Antonio Carlos Barbosa teria convocado a Cristina para a seleção, mesmo que nesta fase preliminar.


12) Qual a sua opinião sobre a participação das brasileiras na WNBA? Atrapalha a seleção? Elas são valorizadas como deveriam na terra do Tio Sam?
R - Acho extremamente positiva a participação das jogadoras brasileiras na WNBA. Lá, elas amadurecerão demais. Veja o caso da Janeth, que está no Houston Comets, e que sempre foi uma grande jogadora. Tímida, não conseguia deslanchar. Na WNBA ela conseguiu maior confiança e hoje lidera o time brasileiro sem qualquer problema. O mesmo vai valer para a Claudinha, que está no Detroit Shock. Ela está em quadra uma média de 23 minutos por jogo. Isso é muito bom. A Cintia Tuiu também. No Orlando Miracles ela é uma das principais jogadoras. Fica em quadra quase que o jogo todo. Só a Alessandra é que ainda não conseguiu se firmar no Indiana Fevers. Penso que se ela não conseguir a confiança do treinador, deveria voltar para o Brasil e passar a treinar com a seleção brasileira para os Jogos de Sydney. Mas estar na WNBA é positivo porque o campeonato norte-americano é o mais forte do mundo. Lá, as nossas brasileiras estarão lado-a-lado com as principais jogadoras do planeta. Não se intimidarão quando tiver de enfrentá-las. E, melhor ainda, para jogar lá, é preciso ter um nível elevado de jogo. Por isso, elas não poderão descansar nem um minuto sequer.


13) E nas Olimpíadas, qual o seu palpite?
R - Acho que EUA e Austrália farão a final do feminino. Se o Brasil conseguir subir ao pódio será excelente. Não estamos, atualmente, no mesmo nível desses dois países. Os EUA são incomparáveis e a Austrália, além de jogar em casa, com o apoio dos torcedores, tem um time fortíssimo que atua quase todo ela na WNBA também. É só visitar o site da WNBA e ver o time do Phoenix Mercury. Nosso maior adversário para a conquista do bronze é Cuba. Mas acho que dá para vencer. Mas não podemos desprezar a China e nem a Polônia, atual campeã européia.


14) Quem formaria seu time titular hoje, no Brasil?
R - Eu colocaria em quadra basicamente o mesmo time que o Barbosa tem escalado: Helen, Claudinha, Janeth, Marta e Alessandra. Mas não ficaria com este quinteto o tempo todo em quadra. Jogadoras como Silvinha, Adriana Moisés, Cintia Tuiu e Kelly podem jogar. Isso sem falar na Leila, que atualmente se recupera de contusão. Em forma, ela é jogadora para figurar em qualquer seleção do planeta. Mas meu quinteto, hoje, seria o mencionado acima.


Um grande abraço e obrigado pelo papo.
Abraço bem grande ao pessoal do Painel do Basquete, e obrigado por acompanhar o meu trabalho no SporTV. Não se esqueçam de visitar o site do iG e ver minha coluna.
Tchau!