bate-bola

As melhores entrevistas do basquete feminino no Brasil

quinta-feira, junho 14, 2007

Barbosa

Um papo franco com o atual técnico da seleção brasileira de basquete feminino sobre história, stress, Olimpíadas, Cíntia Luz e muito mais.

I. A maioria dos fãs do basquetebol conhece a sua trajetória mais de perto a partir do seu retorno às quadras como técnico da Unimep/Piracicaba em 1993, mas você tem uma trajetória bem mais longa no basquete brasileiro, não é? Gostaria que você contasse um pouco dessa história: já foi jogador? como se tornou técnico? como se envolveu com o feminino? os clubes, os títulos, etc?

Joguei basket até a categoria juvenil, em Bauru, fazendo parte de uma equipe que foi campeã estadual da categoria em l963, sendo esta, a primeira vez que uma equipe do interior ganhava um este titulo. Neste tempo, como eu já demonstrava um grande interesse pelo basket, e não reunia aptidões para a categoria adulta, eu passei a ser utilizado também como técnico da equipe infantil e juvenil masculino ,sendo que na minha primeira competição oficial com o masculino fomos vice-campeão do interior no juvenil masculino isto em l964. Porém um ano antes em l963, comecei a dirigir a equipe do colégio que eu estudava, o I.E.Ernesto Monte, já na categoria feminina, na época os campeonatos oficiais eram disputados por poucas equipes e no interior somente participavam Piracicaba e Sorocaba, que eram as grandes forças na época, ao lado de Corinthians, Palmeiras, Pinheiros, Ypiranga, na capital e Botafogo e Flamengo, no Rio de Janeiro,(estou ilustrando e não historiando, pois não tenho certeza destas equipe terem existido exatamente na mesma época) e então nosso objetivo era disputar Campeonatos Colegiais, cujas finais eram realizada no Pacaembu em S.Paulo e era o sonho de todos chegar até estas finais, e eram um verdadeiro celeiro de revelação de atletas ,pois o basket federado ainda era privilégios de pouquíssimos. Em l965 a F.P.B. resolveu massificar o basketball feminino com a realização de campeonatos regionalizados pela FPB, no ano seguinte surgiu em Bauru, a Associação Luso Brasileira ,que iria iniciar uma nova fase do basketball feminino na cidade, inclusive disputando campeonatos federados, eu fui então convidado a dirigir esta equipe que basicamente era a mesma do I.E.Ernesto Monte. A partir de l969,fui contratado pelo SESI, para trabalhar com escolinhas de basket feminino e masculino, mas obviamente como meu envolvimento era com o feminino, o trabalho acabou sendo mais intenso nesta categoria. Porém em l972, tive um desentendimento como o Luso, devido um choque de atividades Luso x SESI, então surgiu o Bauru Tênis Clube, que reuniu as jogadoras adultas do Luso e as reveladas nas escolinha do Sesi. Com este trabalho,a única jogadora importada era então com apenas l5 anos a jogadora Suzete, que jogou por certa 13 anos em Bauru, que se transformaria na grande revelação do basquete por muitos anos. Neste período tivemos uma presença marcante nas categorias menores, volto a repetir, com praticamente só formadas em Bauru, fomos campeões mirim em 1972,Infanto juvenil, l972, l973, l974, l975. Juvenil, l972, l974, l975, l977, neste período foram muitas a jogadoras ai iniciadas que chegaram a seleções brasileiras juvenil e adulta, casos de Vânia Teixeira, Teresa Camilo(foi campeã Pan-americana juvenil em l978,jogando de titular ao lado de Hortência , Paula e a Vânia Teixeira),e outras como Simone(não é a cantora,mas sim uma armadora) Jane, Evanilda e outras,que embora não tivesse sido iniciadas em Bauru, lá se formaram caso de Solange e Fátima Zaváris. Como técnico de seleção me iniciei em seleções paulista adulta em l968, como assistente técnico do técnico Newton Corrêa Costa Jr.(Campineiro) em l969, assistente técnico na seleção Paulista juvenil, do prof.Waldir Pagan Perez. Em seguida passei a dirigir como técnico titular as seguintes seleções paulista l970, l972, l973, l974, 1975, 1976,juvenil. Seleções adultas paulista ,l970,l979,l981,1985,sendo campeão em todos. Na seleção brasileira me iniciei como assistente-técnico do Waldir Pagan, no Pan-americano de Calli, Brasil campeão,(Marlene, Nilza, Odila, Jacy, Maria Helena, Heleninha, Norminha, Elzinha, Delcy, Nadir, Benedita e Lais ).Continuei nesta função até l973, onde devido a problemas de trabalho,me afastei.Em l975, o Brasil foi 12 colocado no Mundial que se realizou na Colômbia, contando com várias jogadoras daquela geração e algumas novas como a Suzete, Cristina Punko (médica e falecida há pouco tempo),Telma(atualmente técnica masculina em S.Bernardo),e ai a CBB,resolveu mudar a comissão técnica para um trabalho de longo prazo, ai então fui convidado em l976,para iniciar este processo.Tomamos algumas iniciativa pioneiras, ao invés de assistente técnico, chamamos um preparador físico,assim como um psicólogo.


Convocamos a Hortência,que na época era reserva em S.Caetano, com apenas l7 anos, a Paula com 14 anos,Vânia Teixeira l6 anos. Além daquelas mais jovens que já participaram do Mundial na Colômbia.Em l980, surgiu Marta, em l982 Branca e l983 vânia Hernandez. Permaneci até l984.Claro que foi um período de renovação e portanto era difícil a conquista de títulos, outro problema que enfrentávamos naquele momento é que tínhamos problemas sérios de estatura e não existia ainda a linha dos 3 pontos, o que nos beneficiou muito nas outras competições.Os títulos nesta fase: Campeão Pan-americano Juvenil ,em l978, Medalha de Bronze Pan-americano de Caracas l983,Campeão sul-americano Juvenil l976, Campeão Sul-americano adulto l978,l981,Campeonato Mundial l983-Quinto lugar.Participamos ainda de 2 pré olímpico,sendo desclassificados nos dois, um quarto lugar no Pan-americano de Porto Rico, nono lugar no mundial da Coréia, vice-campeão juvenil nos USA, terceiro lugar da Copa América no México em l977.

II. Em 1996, o Campeonato Paulista opunha na final a Microcamp, treinada por você, e a Seara Americana, de Vendraminni. Ganhar o play-off era decisivo pra você voltar a ser técnico da seleção ou o convite já estava formalizado?

O Campeonato Paulista de l996,foi decidido em janeiro de l997, eu já havia voltado para a Seleção Brasileira, para dirigir a Seleção Brasileira Juvenil, ainda na administração Brito Cunha. Embora no ano anterior (1995) eu havia formado um juvenil na Unimep, a justificativa do convite que me foi formulado pelo prof.Waldir Pagan e o vice-presidente prof. Fábio de Barros ,é que queriam a minha volta para a CBB, e como teríamos no Brasil em julho de l997, o Campeonato Mundial Juvenil, era idéia da CBB a convocação de um técnico experiente para comandar este trabalho. Minha participação foi iniciada no Sul-americano Juvenil, que foi realizado no Equador, e o Brasil vinha de um resultado negativo no ano anterior no campeonato realizado no Brasil, quando perdemos 2 jogos um para a Colômbia e outro para a Argentina e ficamos com o vice-campeonato. Perdemos novamente ,desta vez para a Argentina, porém no Pan Americano em Setembro do mesmo ano no México, nos reabilitamos e fomos campeões. Logo no retorno da Olimpíada de Atlanta , houve me parece, declarações da comissão técnica da época que não desejavam mais permanecer na Seleção, ai então fui também convidado para assumir a seleção principal, que iria disputar o Campeonato Sul-Americano, no Chile, isto em maio de l997. Portanto não acredito que tenha sido fator principal, mas é óbvio que dá mais sustentação, a um convite.

III. Você assumiu a seleção num momento de glórias. Havia um certo receio de não conseguir manter o nível do basquete brasileiro?
Entrei na seleção em dois momentos distintos, no primeiro um basket feminino no fundo do poço e no outro no seu auge. Claro que sabia das dificuldades da manutenção daqueles resultados, e foram de toda a forma neste período e considero que acabamos superando e se não conseguimos os mesmos títulos,(seria até muita pretensão) pelo menos conseguimos nos manter sempre entre os 4 primeiros, o que em nível mundial não é fácil. Principalmente perdendo não uma jogadora , mas um fenômeno, como Hortência e já com Paula também não demonstrando tanta disposição para Seleção. Receio tem de ter, porém precisa-se ter sempre confiança no trabalho, e principalmente com que você vai trabalhar.

IV. Desde que você assumiu, os obstáculos têm sido freqüentes. Você perdeu dois fenômenos: Paula e Hortência. A Leila atuou pouco. A Marta enfrentou problemas de saúde, e a WNBA concentra as atletas por um período maior. Como tem sido lidar com esses 'pepinos'?

Veja só, além da perda da Hortência, vou só ilustrar os desfalques enfrentados em nossas participações: Copa América em São Paulo (l997): Janeth-WNBA, Cíntia Santos-operada do joelho, e Branca –se contundiu logo no primeiro jogo. Mundial na Alemanha (1998): Marta- foi operada de um mioma. Neste período em diante já sem Paula (1999): Pré-Olímpico em Cuba, cíntia Santos-jogando na Itália, Leila,- problemas particulares, Marta- não fez bom brasileiro e optou-se por não chamar. Pan-americano do Canadá(1999): Janeth-WNBA, Cláudia- WNBA, Alessandra- WNBA, Silvinha- contundida, Marta pelo motivo acima. Olimpíada de Sidney (2000): Leila- contundida. Sem ainda contar as dificuldades de treinamento desta atletas que jogam no exterior, por estas é que consideramos nossas classificações muito boas, ou até ótimas.

V. Nos pivôs, nosso basquete cresceu muito tanto em altura, como em talento. Alessandra e Cíntia estão muito bem e são seguidas por uma geração que promete: Zaine, Kelly, Geisa, Kátia, Patrícia, entre outras. No entanto, na armação e na ala, os buracos deixados por Paula e Hortência ainda não foram preenchidos. Temos uma geração fantástica: Helen, Claudinha, Adriana, Silvinha, mas que ainda está se solidificando internacionalmente. Como resolver esse problema e garantir uma renovação mais segura?
O que ocorre,é que sempre se torna difícil se falar em substitutas destes dois fenômenos, assim as comparações são inevitáveis. Paula e Hortência iniciaram suas participações em seleções brasileira em l976. Seus primeiros sul-americano adulto foi em l977 (vice-campeão) primeiro mundial l979 (Coréia - 9o. lugar) primeiro Pré-Olímpico l979(Bulgária), primeiro pan-americano l979( Porto Rico), portanto é muito tempo de seleção brasileira ao lado de um talento incomparável. Por força deste alto nível destas atletas, tornava-se difícil um revezamento que permitisse o crescimento das reservas destas posições, é só analisar a participação de Adriana e Helen, na competições importantes, como pan-americano de Havana,Mundial da Austrália e Olimpíada de Atlanta,(Helen não jogou),Silvia jogou só a Olimpíada, e a Claudinha estreou no Mundial da Alemanha e logicamente jogou pouco. A participação destas atletas foram das mais pífias nestas competições, então nós temos de encará-las ainda em processo de amadurecimento em nível internacional, sem com isto desmerecer em momento algum o nível de basketball que apresentaram neste segundo período na seleção brasileira. Com os pivôs, já ocorreu o contrário, nem bem saíram do juvenil e Leila e Alessandra praticamente se tornaram titulares da seleção. Somente a cíntia que a partir do pan-americano do Canadá passou a efetivamente a jogar, e depois já surge esta geração onde o destaque é a Kelly que neste momento já é uma realidade. A Geisa vem se destacando neste campeonato paulista como uma eficiente reboteira ,sem se falar ainda na Érica, pivô juvenil do BCN, que com certeza já merece uma convocação para a seleção principal.

VI. A Copa América de 1997 nos encheu de esperança, no entanto, o ritmo não se manteve no Mundial da Alemanha, em 1998. A curta preparação foi o principal obstáculo?

A participação na Copa América foi sem dúvida das mais brilhantes, com Paula tendo sua melhor atuação neste período sob meu comando, com partidas perfeitas ao lado de Marta que também esteve ótima.Veja bem jogamos sem a Janeth, cíntia e a Branca se machucou logo no primeiro jogo o que custou uma cirurgia no joelho, além da Claudia Pastor que havia disputado a Olimpíada de Atlanta. Para a Alemanha tivemos o retorno da Janeth e da cíntia, porém perdemos a Marta, que se submeteu a uma cirurgia no útero. Perdemos duas partidas para a Austrália, ambas por pequena diferente de pontos 2 pontos no primeiro e 5 na decisão da medalha de bronze, e para a USA por 12 pontos, após ter terminado o primeiro tempo na frente do marcador. Antes do Mundial disputamos um torneio em Portugal, contra a Austrália, Coréia e Portugal e fomos campeões. Tivemos a preparação em parte prejudicada pelo calendário, tendo em vista que naquele ano foi pela primeira vez disputada o Campeonato Nacional, aliás desejo e necessidade de todos os atletas, senão correríamos o risco de perdermos os patrocínios após o termino do Paulista. Tivemos a apresentação da equipe no dia 26 de abril e o embarque foi em maio, com menos de um mês de treinos. Com isto a parte física acabou sendo a mais afetada. Infelizmente foi uma situação que nada tinha outra opção, havia a necessidade urgente do Campeonato brasileiro, por questão até de sobrevivência financeira, e com isto ficou reduzido a preparação.

VII. No Pan-Americano, de 1999, depois de uma campanha invicta (e surpreendente) na primeira fase, tropeçamos na fase final. A que você atribui aquela queda?

Não tenha dúvida que foi uma surpresa a nossa participação. Saímos do Brasil, com as chances e porque também não dizer objetivos de terminar em quarto lugar a fase de classificação e posteriormente lutar pela medalha de bronze, talvez com o Canadá, tendo em vista a equipe que nos foi possível levar a competição, desfalques de Janeth, Alessandra, Claudinha, Silvinha e Marta, porém jogamos muito bem, com algumas estreantes chegando a surpreender como Adriana Moisés, Lílian e Kelly, com participações realmente além da expectativa. Veja bem viramos o primeiro jogo contra Cuba,tirando uma diferença de 21 pontos, e assim passamos por todos. Somente contra a Argentina não jogamos bem, ganhando na prorrogação. Não podemos dizer também que fomos decepcionantes dai para frente,pois perdemos do Canadá (que contava inclusive com a sua jogadora da WNBA)de 2 pontos , sendo que faltando 6s para o final viramos e passamos 1 ponto na frente. Sem dúvida a última partida contra os USA, fomos muito mal,já sem a Leila que havia se contundido no jogo contra o Canadá e o aspecto físico já pesava e ainda temos de considerar o abalo emocional , pela circunstâncias da derrota contra o Canadá, que nos tirou pelo menos a medalha de prata.



VIII. Antes de passar ao bronze olímpico, gostaria de tocar num dos pontos delicados da preparação: o corte de Cíntia Luz. Como foi essa decisão e em que ela se baseou? Você daria novas chances a ela na seleção?

A Cíntia é uma excelente jogadora,que temos de convir se firmou de titular em sua equipe nas finais do Paulista e posteriormente no Brasileiro,o que lhe valeu a convocação. Temos de considerar que Olimpíada é final de um ciclo de preparação, e seria isto sim incoerente de minha parte a dispensa de uma atleta que já havia participado das seleções anteriores, que serviram também como preparação justamente buscando um amadurecimento internacional para as olimpíadas. Óbvio, que se o nível técnico estivesse muito acima daquelas com quem ela tinha disputado a posição isto seria relevado. Existe aspectos de características dentro de uma sistematização tática de jogo e aquelas que melhor se enquadrem. Lembrando que a primeira e única participação da Cíntia em uma seleção adulta foi no Sul-americano de Iquique no Chile em l997,sob minha direção. Continua perfeitamente sob observações para possíveis outras convocações.

IX. Na campanha de Sydney, observou-se uma mudança que ocorreu em todos os países, mas que no Brasil é evidente: a diminuição da ofensividade. Os jogos de placares baixos dominaram a competição. Como você explica essa tendência mundial?

Os placares baixos sempre foram as características do basketball europeu principalmente. Não tenha dúvida que sem Paula e Hortência o nosso poder ofensivo perdeu muito,é só observar estatisticamente, o trio Paula, Hortência e Janeth eram responsáveis por 75% dos pontos do Brasil, inclusive no meu retorno a seleção eu priorizei defesa e procurei adequar um jogo em que valorizássemos mais a posse de bola,porém sem nos afastar de nossas características justamente por termos consciência desta perda pelo menos por enquanto deste poder ofensivo.

X. O time surpreendeu a todos na vitória contra a Rússia. Foi um momento especial da equipe?

Sem dúvida a partida contra a Rússia foi a melhor e mais equilibrada tática e emocionalmente por nós jogada. Foi uma partida diferente das outras em que comandávamos o placar todo o jogo e perdíamos no final(França e Canadá). A Rússia era a meu ver uma equipe em condições de disputar medalha de ouro, vista a partida entre Usa e Rússia foi das mais equilibradas com a Rússia liderando o placar quase todo o jogo. A equipe russa era praticamente a mesma que foi vice-campeã mundial na Alemanha (perdeu a final para os USA no final, e com uma arbitragem bem discutível). Estivemos todo o tempo em desvantagem, no placar, além de ter sido a partida em que a Janeth menos tempo permaneceu em quadra.

XI. Um dos momentos mais curiosos e marcantes das Olimpíadas foi a sua invasão na quadra, a segundos do fim da partida contra as russas. O que passou na sua cabeça naquele instante?

Pedimos um tempo quando faltavam 16 segundos e organizamos uma jogada ou para o arremesso da Helen ou o passe dentro para a Alessandra. Claro que a opção primeira era a bola de segurança com a Alessandra, não havia necessidade de um arremesso de 3 pontos pois a diferença era de 1 ponto. Como a jogada era para ser finalizada no limite do tempo e ao ser concretizado o lance a campainha soou julguei, que havia se encerrado o jogo, foi quando a Helen avisou que não, e na realidade era um pedido de tempo, do técnico russo ai então eu rapidamente tirei a equipe dando a entender que eu havia invadindo para poder aproveitar o tempo com minhas atletas, mas na verdade foi um emoção, satisfação e desabafo.

XII. Quais são os fatores que fazem com que tenhamos tantas dificuldades nos jogos contra as australianas?

As dificuldades do Brasil com a Austrália já são históricas. é só observar a supremacia ao longo do tempo ,16 vitórias para Austrália contra 3 do Brasil (l967-Campeonato Mundial em Praga, l992,pré-olímpico de Vigo, e 1998 torneio amistoso em Portugal.) A Austrália nestes últimos anos, a partir da década de 90, passou a ter uma seleção permanente, cujo seu forte é o jogo de intensidade e o conjunto muito sólido, apoiado hoje em 3 jogadoras (Jackson,19 anos, um fenômeno; Brondelo e a Timms, que acabou jogando pouco na Olimpíada). Porém, embora tenhamos, perdido não podemos nos caracterizar como uma equipe inferior. São equipes equilibradas, desde que, estejamos completos e bem treinados. Na Olimpíada tivemos desvantagem do confronto ser em sua casa e ainda mais sendo o Basket feminino a única modalidade de quadra com possibilidades de final.

XII. Durante as Olimpíadas, alguns jornais, estamparam uma declaração sua, segundo a qual 'stress é coisa de babaca', em referência a sua opção (e de Bernardinho, do vôlei) em recusar o trabalho mental do coordenador do COB Roberto Shyniashiky. No entanto, algumas oscilações do time, como no Pan, nas derrotas contra França, Austrália e Canadá parecem ter mais de emocional do que de deficiência técnica-tática. Como você avalia essa questão e como pretende conduzi-la nas próximas competições?

A história do “stress é coisa de babaca”,foi a seguinte: em uma coletiva de imprensa ainda no início da Olimpíada,me questionaram se eu não tinha stress antes de jogos pois tem técnico que passa noite acordado antes de jogos e outras atividades, eu então disse que como comandante, líder eu não tinha o direito e não poderia ter esta fraqueza, pois o que eu poderia esperar de meu time, se eu já era o primeiro a estar abalado emocionalmente, e stress é era para quem acorda de madrugada viaja de trem de subúrbio, trabalha 8 horas por dia e ganha um salário mínimo, e assim por diante fui dando exemplos neste nível, e completei, como posso me estressar trabalhando no que eu me realizo, numa Olimpíada. Que é o sonho de todos de estar, ora stress nesta situação é coisa para fraco ou para babaca. É esta a verdadeira versão. Não acho que oscilamos no Pan, pois simplesmente surpreendemos numa fase, perdemos um jogo faltando 6 segundos, e aí sim no último jogo fomos realmente mal, mas já em outra pergunta já ilustrei tal jogo contra a USA. Os jogos na Olimpíada acho sim que o emocional tem uma presença forte. O Dr. Roberto fez algumas, ou melhor, duas sessões com a equipe ,ainda em Camberra. Resolvemos(todo o grupo) não continuar simplesmente porque julgamos que o tempo era muito limitado e reduzido, para este trabalho. Estes trabalhos com psicólogos ainda não se tornou algo muito utilizado no basketball, aliás este trabalho na minha visão precisa de um tempo maior do que aquele que dispomos normalmente em seleções, no próprio futebol ainda é muito discutível, a presença deste profissional. Não quero dizer que não aprovo,pelo contrário, só para ilustrar em l977, eu trouxe para a seleção brasileira em minha primeira passagem um psicólogo. Penso que para lidar e melhorar este emocional temos de dar uma atividade intensa em termos de competições internacionais e logicamente sempre conversando e motivando além de procurar tirar o máximo possível a responsabilidade por resultados. Fico satisfeito quando você observa que o problema foi mais emocional do que técnico- tático.

XIV. Todos os comentaristas reclamaram do comportamento ofensivo do Brasil dos Jogos. Chamou atenção a dificuldade em realizar o corta-luz. Por que isso aconteceu?
O Basket feminino brasileiro não utiliza em demasia corta-luz. Jogamos mais em desequilibro e passe para fora buscando o arremesso de 3 pontos. Tínhamos uma movimentação, especifica para a Janeth, em que ela recebia um corta-luz vertical na lateral do garrafão e vinha para um arremesso ,na altura do lance-livre, além da movimentação em que a lateral (a Helen foi explorada nesta jogada) arremessava do canto da quadra, recebendo um duplo corta-luz. Tínhamos movimentos táticos em que trabalhávamos buscando o jogo de força com a Alessandra próxima a cesta. Portanto contínuo avaliando que nossos comentaristas ou estão excessivamente exigentes ou estão com pouca acuidade visual.

XV. Mesmo assim, o bronze foi uma conquista muito especial. Como você a avalia em seu conjunto?

Avalio a competição como de altíssimo nível técnico. Existe hoje um equilíbrio no Basket feminino,com uma superioridade por parte da USA, e podemos dizer que estamos entre as melhores, pois nesta década ficou claro este alto nível técnico do Basket feminino brasileiro,sempre classificado entre os 4 melhores do mundo Além de termos conquistados mais uma medalha olímpica para o Brasil, com uma geração renovada, e que nos enche de esperança e confiança para as próximas competições internacionais.

XVI. Várias atletas tem surgido, e em especial a Cristina (Arcor) tem chamado muita atenção. O momento é bom para o Brasil? Como você avalia o trabalho nas categorias menores?

A Cristina é uma jogadora que conheço bem,pois participou das seleções juvenis,em 1996 e 1997 em algumas competições internacionais,como Sul-americano,Pan-americano e Mundial Juvenil. Talvez tivesse até tido chance de convocação na seleção principal,porém a mesma se encontrava com problemas físicos, operação no joelho, e infelizmente está novamente com o mesmo problema. Existem algumas jogadoras que estão se destacando mesmo na categoria juvenil, caso de Érica e Iziane do BCN, da Silvia de Americana, a Vivian do Arcor e a Patrícia de Ourinhos, entre outras que estão apresentando um basketball com destaque. Vejo como bom o trabalho nas categorias menores, porém nos defrontando sempre com o problema de número ainda reduzido de participantes em campeonatos oficiais, o que nos limita a quantidade para dela tirarmos a qualidade.

XVII. Quais são os planos para as próximas competições internacionais?

No ano que vem ou seja 2001, teremos três competições internacionais, uma para a categoria juvenil, e duas para a equipe adulta . Para estas duas competições, que inicialmente será o sul americano, deveremos levar uma equipe mesclada com algumas jogadoras novas para darmos condições internacionais a elas. Posteriormente teremos a disputa da Copa América que classifica três seleções para o Mundial, lembrando que o Brasil foi o último campeão ,sendo que nesta estaremos convocando as melhores jogadoras.

XVIII. Passando agora ao Quaker, o clube chegou a anunciar a contratação da russa Chakirova e depois trouxe a bósnia Merina Secebergovis, mas abdicou de ambas por uma atleta cubana, que acabou não vindo pela ruptura do acordo entre a FPB e o governo de Cuba. Ambas eram pivôs. Por que a preferência por essa posição, já que o clube conta com Marta e Karina? Você pensa em colocar a Marta na posição 3? O clube vai ficar sem uma estrangeira para o Paulista?

A Quaker na realidade tinha em seus planos inicialmente a contratação de uma estrangeira para a posição 3, porém como é uma posição que é relativamente difícil encontrar jogadoras de alto nível, mesmo no exterior, pensamos num primeiro momento de adaptarmos a Marta como 3, aliás ela estava treinando na posição na seleção e se adaptando bem até que se contundiu. A atleta bósnia eu não estava no Brasil na época e a Helena Chakirova, não teria condições de vir para o Brasil no momento, então optamos por ficarmos sem estrangeiras, apostando no grupo por nós formado. Infelizmente tivemos alguns problemas, inicialmente a Mina que já inclusive havia assinado inscrição, recebeu uma proposta do Vasco, e a direção da equipe, resolveu liberá-la, depois tivemos os problemas de contusão da Marta e da Dayse, o que reduziu o nosso plantel, além da defasagem por não termos uma estrangeira. Estamos com 4 juvenis completando o grupo, mas acreditamos que mesmo com esta limitação estamos bem preparados para disputar o título.

Como você tem avaliado as temporadas paulista e carioca (se é que há tempo para acompanhar os jogos na TV)? Se de um lado, o paulista deve mostrar um equilíbrio muito grande pela homogeneidade entre as equipes, a concentração de estrelas em Vasco e Mangueira tem massacrado os adversários no Rio. Acha que essa descentralização fará bem ao esporte?

Vejo como dos mais positivos para o basketball feminino esta descentralização,com o Campeonato Carioca,pois o que sempre lamentávamos era justamente o fato de ser excessivamente centralizado no Estado de S.Paulo, e o que é pior, só havendo equipes no interior e na grande S.Paulo, não existindo em termos de capital. Claro que este primeiro ano com a presença de Vasco e o Paraná –Mangueira, gerou um grande desequilíbrio técnico, mas em um primeiro momento não haveria outra maneira. O importante é que houve uma movimentação de novas equipes e conseqüentemente um aumento no número de participantes. O nível técnico aos poucos ira crescer. Na minha concepção vejo como das mais positivas este Campeonato Carioca, além de estar dando oportunidade de várias jogadoras, que estavam sem equipe em S.Paulo, de jogarem. O Campeonato Paulista, esta indo muito bem, lógico que há uma queda no nível técnico com a saída das jogadoras do Vasco e do Paraná- Mangueira. Existe um grupo de equipe , que estão disputando de uma maneira extremamente equilibradas 3 posições no play-off, Santo André, Guaru e Quaker, e outras 5 buscando outras 3 posições, que seria de 4 a 6 lugar.Portanto houve uma diminuição no nível técnico, mas em contra partida ganhamos em equilíbrio, e o que é mais importante envolvendo um número maior de atletas entre as equipes paulistas e cariocas, 8 em S.Paulo e 7 no Rio.

XX. O tradicional bate-bola do Painel para encerrar um papo que poderia se estender infinitamente:
O jogo que eu não esqueço:
Brasil x Rússia, Olimpíada 2000 e Brasil x Usa, Copa América em 1997.

O jogo que eu tento esquecer e não consigo:

Na minha concepção de vida, passado é referencia, minha visão é sempre para o futuro.

Um time:

Cesp/Unimep, equipe de l994: Jaque Nero, Marta, Cathy, Branca, Paula, Adriana Santos e Alessandra.

Um campeonato:

Cada um em seu momento, é óbvio que a medalha de bronze foi a competição mais marcante,ou seja Olimpíada.

Um(a) técnico(a):
Respeito e admiro. Todos os técnico que trabalham com honestidade, alguma competência e que principalmente sirvam como referencia em sua formação e exemplos de vida.

Uma atleta:
Paula e Hortência, exemplos de talento e profissionalismo, as grandes responsáveis pelo sucesso da modalidade, claro que outras se uniram a elas para as grandes conquistas.

Uma revelação:
Atualmente temos a Erica e Iziane do BCN, e a Silvia do Unimed-Americana.

Uma estrangeira:
Tivemos excelentes estrangeiras jogando no Brasil, atualmente em nível mundial, temos a Laureen Jackson da Austrália e a Lisa Leslie da USA.

Uma quadra:
O Ginásio do Gurarani,onde o Microcamp mandava seus jogos era excelente. Em nível mundial temos muitos, mas o que nos ficou na mente mais recente é o de Sidney.



< Nosso muito obrigado pelo carinho, pela atenção e nossos desejos de muita sorte, saúde e sucesso no Quaker e na seleção! >