bate-bola

As melhores entrevistas do basquete feminino no Brasil

domingo, dezembro 19, 2004

Branca



Maria Angélica Gonçalves da Silva, a Branca, comentarista e dirigente de basquete, ex-jogadora



I. Você abandonou as quadras em 1999 sem muito alarde. Qual foi o motivo desta decisão?

Deixei as quadras sem alarde porque não gostaria que fosse diferente, mesmo porque depois se por um acaso resolvesse voltar talvez as coisas ficariam desagradáveis. Procuro ter palavra sempre.Na verdade eu gostaria de jogar em uma equipe de alto nível e com estrutura, só que infelizmente pelo problema do ranking isso não seria possível, no meu retorno do Sport de Recife em abril/99 acabei ficando sem convite das equipes tidas como grandes e resolvi ficar de fora. Uma equipe grande, não é só ter grandes jogadoras e ir as finais dos campeonatos que disputa, é ter um bom preparador físico, um bom técnico(a), fisioterapeuta, entre outras coisas importantes a nível estrutural.

II. Você tem sentido saudades da quadra neste tempo?

Não, pelo contrário, tenho saudades e as vezes vontade, mais sou feliz e já vejo o basquete com outros olhos, ando extremamente preguiçosa e engordei 8 Kg após ter parado, porque estou parecendo aqueles militares reformados, acredito ter feito tanta atividade durante toda vida que agora não quero saber nem de andar e isso não pode acontecer. Mas já retomei as atividades em academia e vou voltar a minha forma porque fica muito feio uma ex. atleta tão gordinha como estou.

III. Os seus fãs acompanharam sua peregrinação na tentativa de organizar um time para disputar o Paulista-99, mas os acordos não saíram. Por quê?


Foi uma pena, porém sem patrocínio neste país as coisas não acontecem e enquanto não tivermos uma lei de incentivo ao esporte, isso será constante (atletas com as pastinhas embaixo do braço tentando montar equipes), em Avaré por exemplo, fui várias vezes lá com dinheiro do meu bolso e a equipe foi montada com algumas meninas que ficariam sem time e no entanto o empresário que assumiu a equipe deixou de pagar os salários das meninas porque perderam os jogos... no São Paulo Futebol Clube as coisas ficaram esquisitas e na época o marketing do próprio clube assumiu as coisas e disse que iria atrás de um patrocinador, recuei e fui tentando conversar com as meninas... e um belo dia eles desistiram e foi esse final triste, porque talvez teria sido uma grande saída ao nosso esporte, equipes de futebol entrando para nos ajudar. Acho que as vezes o marketing acaba atrapalhando. A visão é focada para os seus objetivos e não pelo esporte em si, porém é um mal necessário.

IV. Ser dirigente é seu objetivo? Quais são as perspectivas para as próximas temporadas?

Não quero ser cartola, gosto da área técnica, porém eu fiz isso a vida inteira, andei pra lá e pra cá, mal tinha tempo para a minha vida pessoal, tinha que obter resultados, treinos, horários... e isso neste momento não seria legal. Vamos ver, o futuro a Deus pertence e quero acabar a minha faculdade para depois pensar em ser técnica. No momento quero ajudar como dirigente, estar na retaguarda destas novas jogadoras, para que elas não sofram o que nós já sofremos.

V. Você sempre foi muito verdadeira em toda a sua carreira e compromissada com seus ideais. Acha possível manter essa postura como dirigente?

Vou manter isso como dirigente sim, é meu caráter e índole, estou cansada de ver algumas pessoas enriquecendo com os esportes e nem aí para a formação de bons cidadãos e pelo bem da sua modalidade. Infelizmente algumas pessoas que acabam conseguindo o patrocínio, ficam ricas e não se preocupam em dar ao atleta a estrutura mínima merecida. Devo confessar que sofri bastante por ter sido muito verdadeira e muitas vezes mal interpretada e até rebelde. As vezes deveria ter sido “santinha do pau oco”.

VI. Você está vinculada ao projeto do Cristóvão Colombo, em Piracicaba? Pensa em montar um time adulto?

Vou explicar legal para que as pessoas entendam, em Piracicaba o Clube Cristóvão Colombo e o Clube de Campo fazem basquete masculino (trabalho de base) e cada sobrinho nosso joga por um clube, daí vem as grandes inverdades, porque ajudar um e não o outro. No começo do ano o Cristóvão não sabia se iria permanecer investindo e daí nosso cunhado Adilson Ribeiro percebeu que poderia “perder” o filho, que teria que sair para jogar em outra cidade e resolveu então conversar com o presidente do clube, neste ínterim o Cristóvão decidiu que continuaria fazendo os mesmos investimentos com as equipes e nós entramos no circuito a fim de melhorar, até agora nada avançou, porque precisamos de um patrocínio para diminuir os gastos do clube e melhorar as condições dos meninos e dos técnicos que lá trabalham. Estamos na fase de ganhar as coisas, pedindo auxílio de algumas pessoas... e também estamos visitando algumas empresas para que a gente possa realmente melhorar. E além do mais fazer sim uma equipe adulta para poder dar estímulos aos garotos e além do mais Piracicaba um grande celeiro do basquete, hoje não tem mais nada, exceto estes trabalhos feitos pelo Cristóvão e pelo Clube de Campo.

VII. A aposentadoria da Paula altera seus planos, já que ela parece disposta a assumir a função de dirigente de basquete em um grande clube de futebol?

Só me ajuda e será importante trabalharmos juntas novamente, ela tem muitos compromissos e vou ficar fazendo a maior parte, para que ela não deixe de atender outros compromissos e além do mais a filosofia é a mesma.

VIII. Sua performance como comentarista da ESPN Brasil foi bastante elogiada. Como tem encarado essa função? Já fechou contrato para comentar as Olimpíadas?


Muito obrigado pelos elogios e amei trabalhar com o pessoal da ESPN Brasil, são ótimos e o principal é que eles entendem de basquete. Meu contrato continua sendo de boca e sei que em breve iremos conversar sobre a WNBA e Olimpíadas.O José Trajano foi quem me deu está oportunidade e hoje gosto ainda mais dele, porque ele é sincero e tem o compromisso com a verdade. Não tem rabo preso com ninguém e isso me agrada.Além do mais, me fez acompanhar basquete, coisa que pensava mais de uma vez, só que isso é minha vida e porque ficar distante.

IX. Acompanhando de perto o basquete, quem seria a base da sua seleção?

Janeth/Silvinha/Helen/Alessandra/Marta ou Cintia Tuiu

X. Quais são suas expectativas para as Olimpíadas de Sydney?

Espero que o Brasil consiga chegar bem fisicamente. Quando foi feito um ótimo trabalho físico o Brasil sagrou-se campeão mundial e isso não pode ser diferente. A Liga acaba em maio e daí serão alguns meses para se prepararem integralmente à Sydney. Ainda bem que os amistosos serão feitos com as equipes que a gente pouco vê jogar e que não se faz intercâmbio. Espero que tenham em mente que todas são importantes dentro do grupo, para que não haja brigas e não existam coisas que atrapalhem. É preciso uma psicóloga no trabalho do Brasil, urgente!.Acredito na equipe do Brasil e temos muitas chances, sim.

XI. Quais são os principais responsáveis pela crise do basquete no Brasil e por projetos grandiosos e tradicionais como o de Piracicaba não serem mantidos?

A Lei de Isenção de Impostos, porém a classe dos atletas é desunida, porque se fizéssemos como os artistas, elaborado algo para o esporte e ido com uma comitiva até Brasília, com certeza teríamos o mesmo incentivo.

XII. Você entrou em conflito algumas vezes com a Hortência, mas acabou se reencontrando com ela na seleção em 1996. Tudo foi superado? Ou houve exagero da imprensa?

Hortência..., talvez éramos parecidas e cada uma na sua posição queria sempre vencer, porém hoje isso já foi esquecido (não gosto de guardar mágoas), tenho muito respeito por ela, acho que ela é muito competente, corajosa e importante para o esporte. Realmente faz as coisas acontecerem e merece estar onde está. Na minha concepção, Hortência e Paula tinham que ter um cargo dentro da Confederação Brasileira de Basquete.



XIII. Para encerrar, um bate-bola:

Um jogo de clubes:

Campinas x Americana em 1997;

Um jogo da seleção:


Brasil indo às finais das Olimpíadas em Atlanta;

Uma adversária:

Nádia (a mesma geração criou esta briga sadia e hoje dá saudade);

Uma quadra:

Atlanta;

A bola que eu chutei e caiu:

Não me lembro;

A bola que eu chutei e não caiu:

Não me lembro;

Uma colega de trabalho:

Matilde;

Uma competição:

Campeonato Paulista;

Um clube:

Cesp-Unimep 96;

XIV. Um abraço carinhoso do site PaineldoBasquete para você e os sinceros votos de muito sucesso em sua carreira.

Muito obrigado pela oportunidade e pela honra. Sempre que puder ajudar estou à disposição. Parabéns pelo trabalho de vocês. Fiquem com Deus, hoje e sempre. Um beijão!


Data da entrevista: 26 de março de 2000

terça-feira, dezembro 07, 2004

Fernando Santos

O jornalista Fernando Santos é o responsável pelas colunas semanais do Canal de Basquete do STARMEDIA Esportes e bate um bolão exclusivo aqui no PAINEL:

1) Para iniciar a conversa: Como o basquete surgiu na sua vida? Você cobre basquete por paixão ou por obrigação?

Comecei a gostar do basquete na época em que Oscar, Marcel e Cia. estavam estourando na seleção brasileira, lá pelo início dos anos 80. No mesmo período, surgiam Paula e Hortência. O que me chamou muito à atenção foi a emoção dos jogos, principalmente aqueles decididos nos últimos segundos. Mais tarde, quando a NBA passou a ser transmitida pela TV para o Brasil, ah, foi o máximo! E, hoje, eu escrevo sobre basquete muito mais por prazer do que por dever de ofício.

2) O basquete vive em crise no país. Quem é o maior responsável nessa história: confederação, clubes, patrocinadores ou mídia?

Acho que o problema maior está em descobrir uma afinidade entre clubes etorcida. O público em geral se afastou do basquete depois que as empresas assumiram as equipes. Não dá para torcer assim. Outro motivo, talvez ainda mais importante, seja a falta de um grande ídolo (está na hora de Oscar descobrir um verdadeiro sucessor) e resultados expressivos da seleção noexterior (não me venha falar do último Pan-Americano!).

3) Os ganhos ou os danos foram maiores desde que o Grego assumiu a Presidência da CBB?

Acho que a gestão do novo presidente deu um grande salto com o campeonato colegial. Foi uma cesta de três pontos. Mas acredito que a grande virada não aconteceu por culpa dele, mas pelo crescimento do basquete carioca, apoiado pelo alto investimento de Vasco e Flamengo.

4) Por que é tão difícil a manutenção de trabalhos consistentes como o do BCN, em Osasco, e do Arcor, em Santo André?

Porque as empresas estão errando na estratégia. A sacada não é colocar o nome do patrocinador à frente do clube, uma fórmula que está falindo o vôlei. Nos EUA, a maioria dos times da NBA pertence a grandes grupos empresariais. Mas eles não são bobos, e sabem que trocar o nome da equipe é uma fórmula suicida. A saída, acredito, é montar equipes fortes, com grandes ídolos, conseguir atrair o público pela paixão do esporte e faturar pelas beiradas. Vejo o exemplo do Campeonato Carioca: foi emocionate, sem nenhuma empresa querendo aparecer mais do que os clubes. Esse é o caminho. Afinal,as TVs (principalmente) e os jornais não dão a devida atenção ao basquete e ao vôlei porque sabem que, nesse caso, estariam fazendo propaganda gratuita das empresas.

5) Qual a qualidade do trabalho de base no feminino? Está havendo renovação?

Os resultados obtidos pela seleção brasileira mostram que, ao contrário do time masculino, a renovação existe. O time que deve ir à Olimpíada é jovem e tem talento. O grande problema do basquete feminino brasileiro é a falta de pivôs, do contrário, poderia dominar o cenário internacional.

6) Em um dos seus artigos, você elegeu o Marcelinho,armador do Botafogo, como uma grande promessa para os próximos anos. Quem, no feminino, mereceria tal destaque?

Acho que a estrela do futuro, e do momento, é a Janeth. Ela é fantástica,completa. Sabe jogar de ala, pivô e, se precisar, arma o jogo. Quando escolhi o Marcelinho como o grande destaque da temporada passada, fiz pela sua excelente participação na seleção e pela capacidade de decidir os jogos.Como acontece com a Janeth.

7) Magic Paula é presente ou passado para a seleção feminina?

Acho que ela deveria ir a Sydney. É uma jogadora experiente e poderia ajudar muito a seleção, mesmo como opção no banco de reservas. Seria um desperdício deixá-la de fora.

8) Qual a sua expectativa sobre a participação do basquete nas Olimpíadas de Sydney?


O ouro é impossível. Não dá para bater as americanas. Como já disse, falta uma pivô dominadora no Brasil. Não é à toa que a CBB lutou tanto para colocar a Karina na seleção. Mas dá para voltar com outra medalha.

9) A temporada da WNBA bastante próxima das Olimpíadasserá um tormento apenas para as brasileiras, que perderão Janeth e Claudinha na preparação ou também para as americanas, que terão o tempo de treinamento reduzido?

Essa é uma questão delicada. Se a jogadora fica muito tempo concentrada, num longo projeto de preparação, ela diz que é sacrificante, que são muitostreinos e preferia estar jogando. É o caso da WNBA. Talvez seja melhor manter um forte ritmo de competição do que ficar apenas treinando. O ideal seria conseguir um equilíbrio: nada de treinamentos excessivos, nem de campeonatos desgastantes. Já que isso não é possível, o melhor é tentar preservar a forma física da melhor maneira possível, o que vai pesar muito em Sydney.


Data da entrevista: 28/03/2000.

Objetivo desse blog

Armazenar as entrevistas realizadas ao longo dos anos de trabalho no Painel e no Blog do Basquete Feminino.